sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

I SEE DEAD PEOPLE

Ninguém pode mudar o passado – é simples assim. Mas todo mundo pode atribuir um novo significado a uma experiência do passado. Para mim funciona, toda e cada vez. Aqui e agora, só me vêm lembranças onde eu quis, busquei e estava consciente dessa ressignificação – porque, por exemplo, eu não desejava carregar um ressentimento, um trauma, uma mágoa.

Mas ressignificar uma experiência do passado acontece o tempo todo, não? Mesmo quando não a quero, quando não a busco, quando dela não estou consciente. Imagino que é disso que se utilizam os spin doctors, os marqueteiros, os políticos e os, er, maus namorados quando me convencem a repetir experiências das quais, outro dia mesmo, eu jurara manter distância.

Muitas das ressignificações, sobretudo as que não quero ou busco, são despertadas por novas informações. Pense, por exemplo, em The Sixth Sense, de M. Night Shyamalan. Uma nova informação no final do filme (um complemento ao “I see dead people” do garoto) fez com que você reavaliasse toda a estória até então, fez com que você atribuísse novos significados a muitas das cenas anteriores do filme. Pense, por exemplo, na sua colega de escritório que sempre chega tarde e sai cedo, que sempre faz sobrar para você, que sempre parece imune às expectativas de performance a qual você se vê sujeito. Bitch! Agora você fica sabendo que ela cuida, sozinha, do pai em estado terminal. Sniff.

Mas tudo isso agora porque?

Tudo isso agora porque na manhã de segunda-feira deixei o Island Escape amando tudo, ou quase tudo. Amei estar num navio, amei estar cercada por um monte de gente o tempo todo, amei estar sob o sol, amei estar cercada por uma energia "woo” (não era, Alberto, “woohoo, galera!"), amei estar numa rave em alto-mar.

Preservar esses significados e sensações, tão positivos e tão deliciosos, me é muito desejável. (Ainda mais porque entrei no navio com a intenção de quebrar bloqueios, de – ah, sobre isso falo mais tarde.) Mas será que preservar esses significados e sensações é viável? Explico. O Tony Goes deixa no meu post EVERYBODY DANCE NOW! um breve e divertido comentário. Mas eu o recebo como um convite – um convite sedutor para reavaliar o meu Tribe Onboard.

MORE POWER TO ME!
Como é que é isso? O comentário me revela uma nova e surpreendente informação? O que ele me revela, boa coisa não parece ser. Mas sequer o entendo bem: Falta-me o who’s-who, a enciclopédia da cena eletrônica – e, está parecendo, também do mundo funk.

Aqueles significados e sensações, tão positivos e tão deliciosos, eram frágeis, superficiais? Eram como o anel que tu me destes, era vidro e se quebrou? Talvez.

Tenho dificuldade em aceitar que curti algo que o antenadíssimo Tony, agora me parece, acha uncool? Ele tem todo esse poder sobre mim? Tenho algo (ou muito) de uma adolescente disposta a trocar autenticidade e espontaneidade por aceitação e pertencimento? Talvez, talvez e talvez também.

Mas deixemos esses porquês, ao menos por ora, em aberto. (Eu sei, é claro, que sequer passou pela cabeça do fofo do Tony abrir essa, er, lata de minhocas.) Agora me interessa mais perceber como se opera, em mim, esse convite sedutor à ressignificação. Não é a pronta ressignificação do bloco todo: “Em retrospectiva, agora sinto assim e penso assado. Ponto.” Não. É primeiro a desconstrução da experiência em seus pedacinhos, suas pecinhas e, aí sim, a reconstrução de novos blocos ou combinações. Quaisquer novas combinações? Não. Novas combinações que comprovem, substanciem, evidenciem aquilo que, agora, me é tão tentador pensar e sentir.

Será que me faço entender? É um pouco como se você me propusesse um enigma sensorial ao contrário: Você me diz como eu devo pensar e me sentir, e eu busco as pistas no meu banco de memória. Há pouco me peguei pensando: “Mmm, uma festa onde estava a atriz-modelo conhecida como Bandida do Funk?”

Humm. Atenção spin doctors, marqueteiros, políticos, e maus namorados: Começo a entender como o seu feitiço se opera em mim! Os seus complementos-ao-I-see-dead-people só vão me pegar se e quando eu quiser. More power to me!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

EVERYBODY DANCE NOW!

Eu nunca havia estado num navio. Mas já havia visto imagens suficientes para saber que há um ritual, um espetáculo de buzinação e agitação e exultação quando o navio parte. Mas quando o Island Escape partiu do porto de Santos na sexta-feira, Tommy, ali foi uma explosão: Começava a Tribe Onboard 2008.

Os primeiros sons do DJ Soneca nos chegam como uma ordem, um mandamento: Todo mundo – também esta blogueira – começa a dançar. Alguns – não esta blogueira –, talvez movidos por entusiasmo, talvez com o auxílio luxuoso das balas e dos doces, alguns só param na segunda-feira de manhã, quando o navio atraca no porto de Santos.

Será que a Lúcia que desce do navio está desbloqueada (como eu disse), perdeu algumas virgindades (como a Rosane preferiu), quebrou todas as cadeias (nas palavras do Alexandre Lucas)? Ou será que esse cruzeirinho termina por revelar ou criar ainda outros bloqueios?

Ah, é muita coisa para escrever num post só. Por ora sugiro que assistam a Rock This Party/Everybody Dance Now do Bob Mr-Feel-Good-Song Sinclair. Lá aquele garoto fofo que salva a Terra em World, Hold On, e que atravessa a América de bicicleta em Love Generation, lá ele e duas amigas fofas também fazem todo mundo dançar já. (Ravers: Isso não é uma provocação! É apenas que talvez eu seja, er, mais do carinho do que do carão.)

P.S.: Para o Ludo já contei tudo num happy hour na terça-feira. Foram cinco horas de confissões – e eu nem precisei miacabar nos cosmos!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

aka MR. BIG

O antenadíssimo Tony Goes, meu vizinho e blogueiro favorito, acaba de postar o muito esperado novo trailer de Sex and the City: The Movie. Kudos to Tony!

Tony diz ter gostado do que viu: As meninas, as roupas, a Jennifer Hudson, e principalmente a música-tema em versão "orquestra de Hollywood". Mas vejam, meninas, como são os homens: Passou-lhe batido o que todas nós realmente queríamos saber – o nome verdadeiro do Mr. Big. Onde já se viu um trailer revelar o que o último episódio da série deixou em segredo? Talvez por isso os produtores estejam tirando-o do ar.

O nome é John James Preston. Ah, eu sei: É tão previsivelmente wasp..! Os autores perderam a chance de nos surpreender com um sobrenome polonês, irlandês, ou mesmo muçulmano. Ou com um nome que referencie alguém do mundo real: Era esse o caso do outro namorado de Carrie, Aidan Shaw – uma homenagem ao, er, grande ator de filme pornô gay Aiden Shaw. Bom, segundo o Tony, o filme estréia em 4 de julho. Os autores têm um pouco menos de quatro meses, sete dias, cinco horas e vinte minutos para pensar num nome mais criativo.

Deixo-os com a lindíssima Blue Skies, do very-New-Yorker Irving Berlin. É essa canção, na gravação da very-divine Ella Fitzgerald, que abre o trailer de SATC: The Movie. Aqui vemos a very-girl-next-door Alice Faye cantando-a para um Mr. Big dos anos 40, Tyrone Power.

CAIXA DE PANDORA

Versão que li para o meu grupo de desenvolvimento pessoal no ISH em dezembro de 2007, a partir de registros postados em março de 2007: IT’S TOO DARN HOT, CAIXA DE PANDORA, LIVRE ARBÍTRIO, DUKKHA ARIYA SACCA, EPÍSTOLA AOS ROMANOS

Há muita coisa aqui ao redor do porto da balsa em Porto Seguro onde, nessa manhã de carnaval, eu e o Thomas esperamos pela Sabine. Estamos no Bar da Japonesa, mas me sinto um pouco – na caixa de Pandora!

Caixa de Pandora? Por que um julgamento tão sumário? É porque eu tenho, por natureza ou formação, uma mente voltada a julgar, analisar, opinar, criticar? Isso me ajuda, e muito, quando avalio o perfil de risco e retorno de um investimento. Mas e aqui? Isso me atrapalha, e muito. E se eu buscasse, como ensina o Krishnamurti, observar sem julgar? E como é que eu começo? Talvez ampliando os meus sentidos – e registrando cada pedacinho do que sinto.

Há o calor e a umidade que me lembram que há uma pele que me separa do mundo. Tenho filtro solar e Off pelo corpo todo. Nos lugares em que fui picada, e há muitos deles, há Polaramine. Sinto que a minha pele está impermeabilizada e o calor, trancado no meu corpo. Não transpiro. O suor escorre por alguns poucos e inusitados poros. Sinto-o atrás das minhas orelhas, no meio das minhas costas, atrás dos meus joelhos. Há insetos que voam próximos dos meus ouvidos, os que insistem em posar no meu nariz, outros que mordem, picam todos os pontos em que não passei Off.

Há o estridor da rampa de ferro da balsa arranhando o concreto do porto. Há o barulho das Kombis com pouca manutenção, dos buggies e seus motores expostos, das buzinas que soam ora em comemoração ao carnaval, ora em protesto à fila. Os passageiros que gritam êêêêêêêêêêêê porque seus carros finalmente entram na balsa. E há o som distorcido e rachado dos carros envenenados com autofalantes gigantescos e sua música que parece se repetir. E esse é um som que não me chega só pelos ouvidos. Também, e mais, por tudo aquilo que toco. Os pés no chão, as mãos e os braços na mesa.

Há o cheiro e a fumaça da fritura dos churros, dos pastéis e dos espetinhos, do diesel do motor da balsa, da gasolina dos vários carros ligando seus motores ao mesmo tempo, alguns porque saem da balsa, muitos outros porque a fila andou. A fumaça, vejo-a com os meus olhos – mas também a sinto machucando os meus olhos e prendendo na minha garganta.

Sim, posso observar cada pedacinho. Mas todos eles juntos chegam-me como um convite à irritação, à impaciência, à exasperação, à falta de razão.

LIVRE ARBÍTRIO
Espera: Um convite não é uma ordem! Não preciso aceitar todo convite que recebo. Já me convidaram para participar de uma caçada, para assistir a uma tourada, para comer buchada de bode. E adivinhem o que?

Tenho muitas escolhas aqui!

Eu posso compensar esse desconforto todo com uma dose de prazer, como tanta gente ao meu redor parece fazer. Devorar uma porção de pastel, tomar uma cervejinha, fumar um cigarrinho.

Eu poderia, aliás, já ter escolhido estar no mundo anestesiada desses e de outros desconfortos, de outras dores da vida. Talvez um uso recreativo de Zoloft, Rivotril, Lexotam?

Eu posso, porque não, distrair-me. Pensar nas minhas coisas favoritas, como ensina a noviça rebelde aos filhos do capitão. Ou simplesmente deixar-me levar pelo pensamento, como ensina aquela outra canção, aquela do pensamento que parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar. Posso transportar-me para a experiência mágica, celta, enfeitiçada que eu tive na estrada de Bonito a Miranda. Visualizar o banho que eu tomarei tão logo chegar a algum lugar.

Mas e se eu deixasse a minha mente aqui, junto ao meu corpo, sem anestesia? Ainda assim teria uma escolha? Mmmm...sim! Pois não é só o calor, a umidade, os insetos, o barulho, o cheiro e a fumaça. Não. Há aqui uma paisagem bem mais complexa. Há uma vibe aqui, alguma energia compartilhada, há algo a qual as pessoas curtem pertencer. Sim, Lúcia: É dia de sol na Bahia, é manhã de carnaval!

Ainda tenho pelo menos mais uma escolha: Posso escolher aquilo com o que me sintonizo nessa paisagem, aqui e agora. Que paraíso escolher me sintonizar com o dia de sol na Bahia de Caetano, com a manhã de carnaval de Luiz Bonfá e Antonio Maria. E que inferno me sintonizar com o calor, a umidade, os insetos, o barulho, o cheiro e a fumaça.

Sei que ainda tenho essa liberdade de escolha. Mas também sei que, agora, essas duas alternativas não se apresentam em igualdade. Agora é tão mais forte, atraente, quase irresistível sintonizar-me com o calor, a umidade, os insetos, o barulho, o cheiro e a fumaça – com aquilo que será o meu próprio inferno.

Cacá, Flávia, como é mesmo que eu trago aqui a minha presença?

BONECAS RUSSAS

As matryoshkas, todo mundo conhece, são bonecas russas feitas para ficar umas dentro das outras. Há ainda outras bonecas russas, e essas só alguns de nós conhecem, feitas para ficar uma ao lado da outra: As Delinskis.

Mas desde o Natal estavam separadas – e que separação!

A Rebequinha na amplidão do campo em Ponta Grossa; a Julie na contenção dos quartos de hospital em Curitiba e São Paulo. A Rebequinha ganhando tamanho; a Julie ficando magrinha. A Rebequinha encantando-nos; a Julie preocupando-nos. A Rebequinha falando com todo mundo; a Julie esquivando-se de falar com tanta gente.

Mas em 15 de fevereiro, uma semana depois de a Julie passar por uma cirurgia delicada mas coroada de êxito, essas bonecas russas se encontraram em Curitiba. Agora sim: Estão de novo uma ao lado da outra, como foram feitas para ficar.

Ah, e mais boas notícias: Desde o Natal a Rebequinha aprendeu a andar – e a Julie, a andar mais devagar!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

LORD HERBERT

Ele trata cada pessoa como se fosse a única na face da terra. Ele é chic, ritzy, divertido, simpático, inteligente, culto, generoso, bonito, elegante – um gentleman. Ele parece saído de uma canção de Cole Porter, de um romance de Oscar Wilde, ou de uma foto de Robert Mapplethorpe. Ou de uma mistura de tudo isso. Pronto: Ele parece saído daquele vídeo do Bruce Weber para o Pet Shop Boys. E como na canção, he is never bored – because he is never boring.

Happy birthday, Lord Herbert!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

QUEBROU, NÃO TEM MAIS JEITO

Para a Eliana, nesse fim de semana faremos uma viagem de navio. Para mim, farei a maior prática de desbloqueio de toda a minha vida – the mother of all unblocks. Viajar de navio – nunca estive num navio, e sinto náuseas até em automóveis. Estar cercada por um monte de gente o tempo todo – chega uma hora, já lhes contei, em que eu preciso estar só. Estar sob o sol, num calor de mais de 30 graus – isso, já lhes contei também, pode chegar-me como um convite à irritação. Estar cercada por uma energia "woohoo, galera!", numa rave em alto-mar – sou mais contida, acho, e funciono melhor em situações intimistas ou em cenas alternativas.

Sim, tenho ainda outros bloqueios com os quais não lidarei nesse cruzeirinho. Mas, e parafraseando New York, New York, if I can make it in this boat – I can make it anywhere. Além do mais, estou convencida de que todos os meus bloqueios se encontram no bloqueio que experimento aqui e agora. E todos os meus bloqueios se quebram no bloqueio que quebro aqui e agora.

E bloqueios são como pátrias, famílias, religiões – e preconceitos: Quebrou não tem mais jeito.

SE ELA DANÇA, EU DANÇO

Tem coisa que eu só faço se a minha irmã mais velha for comigo.

Bom, ela não é mais velha do que eu – aliás, é quinze anos mais nova. E ela não é minha irmã.

Mas é como se fosse: Tem coisa que eu só faço se a Eliana for comigo. E tem coisa que só a Eliana para me convencer a fazer.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

¡HASTA LA VISTA, COMANDANTE!

Surpreendi-me, é claro, com a notícia da renúncia de Fidel Castro. A minha opinião? Ah, fala sério. Quando quero uma opinião inteligente sobre política, busco-a em El País ou Le Monde. (Sobre política americana, em The New York Times.) E quando quero ouvir algo lírico sobre um ícone de esquerda, dirijo-me a José Saramago, Oscar Niemeyer ou Chico Buarque. Sugiro que vocês façam o mesmo.

Ainda assim, chamo-lhes a atenção para a forma, er, peculiar com que el Comandante constrói a sua carta de renúncia. Não basta a Fidel comunicar que seu estado de saúde não lhe permite a mobilidade e a dedicação de que Cuba precisa, e que confia na autoridade e experiência de los compañeras y compañeros del partido para garantizar el reemplazo.

Ele também precisa dizer que já estava tudo planejado. E não só isso: Ele também precisa dizer que já estava tudo anunciado, ainda que discretamente, em duas cartas divulgadas pela Televisión Nacional nos últimos meses. De fato, nas cartas Fidel sustenta que seu “deber elemental no es aferrarme a cargos” e que é “decidido partidario del voto unido” (seja lá o que isso quer dizer). Mas isso me parece genérico o suficiente para abarcar qualquer interpretação – inclusive que el Comandante manter-se-ia no poder para sempre.

Há ainda algo muito instigante na carta de janeiro: “Toda la gloria del mundo cabe en un grano de maíz”. Parece mais próprio de um Jesus Cristo a enaltecer as coisas de Deus ("nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um lírio do campo") do que de um Fidel Castro ateu e adepto do materialismo histórico de Karl Marx.

Quero muito refletir sobre esse grão de milho – mas preciso ir ao clube, correr. Porque esta blogueira não é só a sua mente e a sua alma – pero su cuerpo también. Por ora, deixo-os com a maravilhosa Chan Chan na interpretação gloriosa de Buena Vista Social Club e Ry Cooder.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

COM QUE ROUPA ELE VAI?

Mein Noel Rosa! Was ist mit Herr Padilha passiert?

Um tipo de demonstração de poder? Isso funcionaria para um diretor consagrado em Berlim, como Ang Lee – mas ele está sempre chiquérrimo.

Alguma rebeldia? Isso funcionaria numa cena 100% mainstream, como a entrega do Oscar – mas não funcionou nem para a Björk vestida de ganso.

Um caso de intervenção para os Ab Five?

Wahrscheinlich!


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sábado, 16 de fevereiro de 2008

MMMM...

Se você não acredita nessa receita da Noviça Rebelde para sair da dor, da agonia, da ansiedade, da tristeza, essa receita de pensar nas suas coisas favoritas – o que eu posso dizer-lhe? Que isso também vai passar? Que depois da tempestade vem a bonança? Que vai ser-lhe revelado, num sonho, uma maneira de ser feliz?

Não rola?

Mmmm... E se eu disser, como a Mallu Magalhães, tchubaruba?

Ela compõe, canta, fotografa, desenha e pinta. Ela é a sensação paulistana no MySpaceMúsica. Ela tem quinze anos. Se você não souber onde a Mallu está – she'll be tchubirubing.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

RAINDROPS ON ROSES AND WHISKERS ON KITTENS

Para Felipe D., que sempre acha uma forma de estar alegre. E para Toot-sie, que está buscando um caminho

Reconheçamos: Às vezes pode ser uma fuga, uma distração. E só funciona no curto prazo. Mas podemos sim mudar rapidamente nosso humor, nosso sentimento – e meramente mudando o objeto do nosso pensamento. Então é claro que lembrar das nossas coisas favoritas pode nos tirar da dor, da agonia, da ansiedade, da tristeza.

Mas que coisas favoritas são essas?

Pesquisando o orkut, achei respostas como zouk, o meu gatinho, praia, música, o Timão. Mas no universo de Oscar Hammerstein II, letrista de My Favorite Things, essas coisas são gotas de chuva em rosas, bigodes em gatinhos, chaleiras de cobre brilhantes, flocos de neve que ficam no meu nariz e nos meus cílios! E tudo isso no meio de bad e sad, rima deliciosamente fácil que Paul McCartney repete na maravilhosa Hey Jude. (Para quem ainda não havia se dado conta, com “raindrops on roses and whiskers on kittens” o Tony Goes sugere que aquele é um blog sobre as suas coisas favoritas.)

É por isso, e por tantas outras razões, que My Favorite Things não é só uma das minhas canções favoritas: É uma das minhas coisas favoritas. A minha gravação favorita é a de Dave Brubeck. Mas deixo aqui, em feel-good intention para o Toot-sie, a interpretação proselitista de Julie Andrews, na versão valseada de A Noviça Rebelde. Adoro a forma com que ela passa do falar ao cantar no primeiro “on kittens”.

Como contraponto, queria também ter deixado a interpretação desesperante de Björk em Dancer in the Dark – mas, ah, não dou conta.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

WILL YOU BE MY VALENTINE?

Já lhes contei que, inspirada pelo livro Hi-Fidelity de Nick Hornby, também eu saí fazendo minhas listas. Uma dessas listas é a de canções mais românticas de todos os tempos. Ainda não a concluí, mas Night and Day, do de-lovely Cole Porter, é uma delas.

Há então outra lista, a de melhores interpretações de Night and Day. Essa eu também não concluí. Mas já decidi que, no matter what, a interpretação bossa nova de Everything But the Girl comanda. (A pior provavelmente é a do U2. But let’s not bother with things we hate.)

E por que esse romantismo de repente? Porque hoje, Valentine’s Day, desejo que você ame alguém que pense em você noite e dia. Alguém que deseje você. E que esse seja um desejo incessante. Um tormento. Um tormento que não acabe – until you let them spend their life making love to you.

Mas será?

Pensando melhor, não estou certa se alguém que pense em mim noite e dia é uma boa coisa. Sim, esse é um desejo que me visita de vez em quando. Mas daí a realmente vê-lo manifestado? Dia após dia, ter alguém que pensa em mim noite e dia? Que escravidão, hein? Sim, pois a escravidão do escravo é a escravidão do senhor. E, também pensando melhor, não é isso que nos ajuda a revelar essa interpretação angustiada do U2? Nesse vídeo angustiado do Wim Wenders? Danke Schön, Bono e Herr Wenders.

Acho que prefiro um outro tipo de amor. Um amor que faz de mim, para quem me ama, não um fim em si mesmo. Mas um amor que faz de mim, para quem me ama, um portal, um catalisador de um amor para o mundo. E vice-versa, você entende. Já falei um pouco sobre isso.

Aliás, nem Ginger Rogers parece interessada nesse amor que aprisiona. Fred Astaire fala, fala, canta, canta – e ela não dá bola. É só quando ele começa a dançar que ela, como diria o MC Leozinho, ela dança. Seria diferente, Ginger, se Fred Astaire falasse, falasse, cantasse, cantasse como o jovem Frank Sinatra?

ENTRE GERAÇÕES 2

Lux: de são paulo a nova york, a nossa onde de amor não há quem corte
Kaká: nova york? to indo pra dubai
Lux: eu sei. tava falando da canção
Kaká: que canção, lux?
Lux: a canção do júlio barroso
Kaká: ?
Lux: da gang 90
Kaká: ?
Lux: aquela do são três horas da manhã, você me liga pra falar coisas que só a gente entende?
Kaká: ?

Deixo-os com Telefone, na interpretação deliciosa do Ira! e da fofa da Fernanda Takai. Para quem quer lembrar (ou ficar sabendo) o que era ser moderno (ou performático, como se dizia) nos anos 80, eis o vídeo da interpretação da Gang 90.

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ENTRE GERAÇÕES 1

Ela já havia mencionado uma ou outra piada de Chaves. Mas eu presumi tratar-se de uma gafe del Presidente Chávez – uma dessas que faz a delícia de la derecha latinoamericana.

Mas agora há algo que a Kaká me conta sobre um Seu Madruga, sobre a ética desse Seu Madruga, que me interessa. Algo sobre a futilidade da vingança.

Lux: me explica?
Kaká: explicar o que, lux?
Lux: quem é seu madruga?
Kaká: não sabe quem é seu madruga? :-o
Lux: não
Kaká: nunca viu chaves?
Lux: que chaves?
Kaká: no sbt?
Lux: não
Kaká: não sabe o que é chaves? :-o
Lux: sei que é um seriado mexicano. mas nunca assisti
Kaká: tá bom. é assim. o chaves mora numa vila
Lux: sim?
Lux: e então?
Kaká: ah, não vou explicar, lux. não vale a pena. é muito tosco
Lux: please? :-)
Kaká: nope

Quero muito deixar-me inspirar pela sabedoria do Seu Madruga. Mas se para tanto tenho que, en la mitad del camino de mi vida, assistir a Chaves – no, gracias!

Alguém se habilita a me dar o resuminho?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

ASSIM VOCÊ ME INSULTA

Que eu me sinta insultada é bastante raro. Não é que eu ligue o f*&$-se, como se diz: Eu preferiria que todo mundo me achasse uma fofa e me tratasse como o gênio trata o amo. Então não, não dou de ombros quando alguém me atribui um gesto, intenção ou sentimento que não fiz ou tive, quando alguém me nega ou me tira algo que me é caro. Mas daí a me sentir insultada? Nein, Danke!

Uma amiga sempre se surpreende: “Mas você vai ficar assim, como um carneirinho?” Para ela, diante de um insulto, uma provocação – e tanta coisa chega-lhe como um insulto, uma provocação – o valentão briga e o medroso foge. Tento explicar-lhe que não me senti insultada, que sou seletiva naquilo em que coloco a minha energia, que se algo me é importante vou sim negociar, mas sem necessariamente brigar. Mas o seu olhar revela outro veredicto: “Blá, blá, blá, D. Lúcia. No tienes cojones, isso sim.”

Parece que a minha amiga tem alguma razão. Afirmam alguns cientistas que temos três cérebros em um; o mais simples e instintivo deles, o reptiliano (pois se parece com o dos répteis) opera em fight or flight (luta ou fuga): Diante da sensação de perigo o valentão se enche de raiva (ou coragem) e briga; o medroso se enche de, er, medo e foge. Porém, sugerem esses cientistas, se não estou numa situação de sobrevivência, posso e devo renunciar a essa solução binária e reptiliana. É para isso que tenho o cérebro néo-cortical: Para construir múltiplos significados para os fatos diante de mim, para construir múltiplas alternativas de ação diante desses significados, e para escolher, entre esses significados e alternativas, o que fazer.

Mas esses argumentos da neurociência não funcionam para a minha amiga, uma brigona de primeira. Quando ela me conta uma briga – ah, ela não me conta uma briga; ela revive, ela ressente essa briga! E aí vem, num crescendo, a indignação, a raiva, a ira, a cólera. E no meio dessa explosão de emoções, por Iansã – não sei mais se ela está a me contar uma briga ou a brigar comigo!

E não são só as suas brigas: São as minhas também. Fidelíssima, ela enxerga pessoas brigando comigo ou me provocando, ela me alerta para essas brigas e provocações – “please, don’t be a Iago!”, eu insisto –, ela é capaz de brigar por mim uma briga que sequer reconheço!

O que eu faço com essa amiga tão fiel mas beligerante?

Já pensei em, a la Major Nelson, prendê-la numa garrafa. Ao menos nos dias de TPM, que no caso dela significa Treinada Para Matar. Francamente, não seria só facilitar a minha paz de espírito: Ser-lhe-ia um enorme serviço de gestão e prevenção de crise. Dei uma pesquisada nessa solução, mas os fatos me desanimaram: A garrafa funciona para os gênios – não para as geniosas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

SHE RUNS THIS! 3

Não sei nada sobre Djin Djin de Angelique Kidjo. Mas é claro que Momento de Bebel Gilberto merecia o Grammy de Álbum Contemporâneo de World Music. Se serve de algum consolo, Bebel, saiba que você comanda a trilha sonora da minha vida.

Deixo-os com Momento, a canção.

SHE RUNS THIS! 2

Apesar de todo o meu viés pro-Amy Winehouse, peguei-me vibrando e me emocionando também quando Herbie Hancock agradeceu o Grammy de Álbum do Ano, categoria na qual Back to Black concorria.

Sei pouco sobre Hancock, e ainda menos sobre o seu álbum River: The Joni Letters. Então por que a minha empolgação? Será que é porque esse é o primeiro álbum de jazz a ganhar o prêmio desde Getz/Gilberto em 1964? Será que é porque a brasileira Luciana Souza interpreta uma das suas faixas? Será que é porque talvez assim as pessoas (eu inclusive) ouçam mais jazz? Será que – de verdade? Acho que é mesmo porque qualquer pessoa que entre num palco dizendo “thank you, Joni Mitchell” tem todo o meu aplauso.

Joni runs my heart.

Deixo-os com a lindíssima A Case of You. Dizem que Joni escreveu-a para Leonard Cohen. Bem, que outro amante de Joni teria o chutzpah de parodiar Shakespeare para dizer-se “as constant as a Northern star” – e então sumir? Joni canta ao som do dulcimer apalachiano (que ela mesma toca), do violão de James Taylor, e de um tambor.


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SHE RUNS THIS! 1

Adorei ter acompanhado a entrega dos Grammys até as duas e meia da manhã. Adorei ter visto Amy Winehouse ganhar cinco deles. Mas o que eu realmente adorei foi ter visto Amy celebrar com sua banda, seus pais e seus amigos o Grammy de Gravação do Ano, por Rehab. Enquanto os premiados presentes no Staple Center de Los Angeles ajustaram, comme il fault, suas reações às regras do cerimonial, Amy e sua entourage entregaram-se ao êxtase.

Essa foi um pouco uma celebração de excluídos, não? Do lumpesinato, do exército de Brancaleone, do estandarte do sanatório geral? Amy barrada no baile pelos oficiais da imigração americana (ok, o visto veio na sexta) e em meio a um tratamento numa clínica de rehab. Her daddy who thought she was fine. Sua mãe que lhe mandou uma carta prevendo sua morte em um ano. Seu maridón Blake – oops, esse não foi pois está na prisão. Enfim, todos esses personagens que fazem a delícia dos paparazzi e fofoqueiros de tablóide, que alívio e que delícia vê-los não em fiascos, bas-fonds e intrigas – mas sim na alegria da celebração.

“To my mom and dad, for my Blake, my Blake incarcerated. And for London”, Amy disse. Vibrei e me emocionei como se eu tivesse ouvido "And for my dearest friend Lúcia in São Paulo".

Com todo respeito aos seus quatro Grammys e à memória da sua mãe, Kanye: It’s Amy Winehouse who runs this!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

GIRLS' NIGHT IN

Vanity Fair elegeu Alice Braga uma das dez fresh faces do cinema internacional. Annie Leibovitz fotografou as talentosas e muito promissoras atrizes para a capa e o recheio da edição anual de Hollywood da VF, que circula em março. Alice aparece sentada, ao centro, de vestido rosa John Galliano.

Há 22 anos eu fotografava a pequena Alice ao lado da sua prima Thais, da sua irmã Rita e de, er, mim mesma. Alice e eu aparecemos sorrindo, de cabelo molhado. Era uma divertidíssima girls’ night in numa Guaecá de friozinho e chuva.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

I NEVER BOTHER WITH PEOPLE I HATE

Para o Too-tsie, em resposta ao seu comentário no post KUNG HEY FAT CHOI!, dizendo que "desejar tudo de bom a TODOS é de uma elevação espiritual ímpar"

Surpresa! Eu pratico o Metta (amor bondade, amor universal ou amor cordial) justamente porque me é difícil desejar tudo de bom aos que não me agradam. E porque conseguir fazê-lo, acredito, é a única forma de manter a minha mente tranqüila e o meu coração aberto.

Eu uso “os que não me agradam”, mas o texto original diz "inimigos". Desejar tudo de bom aos meus inimigos? Há aí um paradoxo irreconciliável, não? Como aquele do “amai os vossos inimigos” cristão ou do “I never bother with people I hate” de The Lady is a Tramp. If I hate a person, I already bother too much with them. Quando eu li o papa Bento 16, na encíclica Deus Caritas Est, referir-se ao amor à “pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer”, adotei.

Mas de volta ao Metta. Eu pratico sempre que me sinto machucada por alguém. Num primeiro momento, sentir raiva dessa pessoa, ou contemplar uma retaliação (oops, tucaneei!) parece irresistível – até porque isso me protege da dor e da tristeza, não? A dor e a tristeza são dilacerantes, são yin, são paralisantes, e de repente que vontade de chorar – e chorar até ficar com dó de mim! Mas a raiva – ah, que poder, que fuerza, que yang, que mobilização, que Scarlett O'Hara jurando para si mesma "eu nunca mais vou passar fome"!

Mas uma coisa é sentir, pontualmente, dor, tristeza ou raiva em decorrência de um conflito interpessoal. Outra coisa, e muito diferente, é manter ou cultivar esses sentimentos. (Nem preciso dizer que ainda outra coisa é agir nesses sentimentos, sem reflexão – por exemplo, engajar-se em maledicência.) Aliás, sentir dor, tristeza ou raiva é muito importante – é assim que eu me dou conta de que não estou sendo atendida em algo de que necessito. Respeito, lealdade, amor, carinho? Mas assim que identifico a minha necessidade não atendida, trato de fazer cessar, de curar a minha dor, tristeza ou raiva. Como?

É aí que entra o Metta. Antes de dormir? Desejo tudo de bom àquela pessoa por quem me senti machucada. Pensei nela? O mesmo. Estou no trânsito? Também. Entrei numa fila? De novo. No começo é difícil de engolir. Rola um certo me-engana-que-eu-gosto. Mas pela repetição, pelo poder do mantra, não sei bem como isso se opera – daqui a pouco estou genuinamente a desejar tudo de bom àquela pessoa. E um pouco depois, vai entender, não me sinto mais machucada. Curei-me.

Felizmente desejo tudo de bom a toda e a cada pessoa no mundo. Até porque, ainda mais felizmente, não me vi machucada, lesada ou injustiçada no limite da minha sanidade ou dignidade. E se eu tivesse um filho cruelmente assassinado? Se eu tivesse sido vítima de abuso sexual na infância? Se eu tivesse sido condenada por um crime que não cometi?

Mas mesmo no meu universo de ofensas menores, perdoar é diferente de reconciliar. As pessoas com as quais eu não consigo construir ou reconstruir dinâmicas saudáveis, ou criar comunicação honesta – para elas, tudo de bom. Mas também o meu I'm a bubble, goodbye!

Deixo-os com The Lady is a Tramp nas interpretações de Frank Sinatra e de Ella Fitzgerald. Ouví-las assim, uma depois da outra, confirma que os dois são os maiores intérpretes de standards americanos. Mas também ressalta que o Blue Eyes é o mestre do cantar falando, falar cantando – he is so the guy!


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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

WHAT’S IN A NAME? ANO DO RATO DE TERRA

Não é apenas um ano novo lunar chinês que se inicia em 7 de fevereiro: É também um novo ciclo de doze anos. Cada ano é regido por um de doze animais, e por um de cinco elementos – madeira, fogo, terra, metal e água.

Há, estou certa, explicações astronômicas, astrológicas, energéticas e matemáticas para esse sistema. Eu conheço apenas a lenda. Buda convidou todos os animais para uma festa de ano novo. Doze compareceram. Em agradecimento, Buda instituiu que cada um deles regeria um ano. O rato foi o primeiro a chegar à festa: É dele o primeiro ano. Não conheço uma lenda que explique como os cinco elementos entraram nesse sistema.

O ano que se inicia é um Ano do Rato de Terra. Rato de Terra? Não soa muito promissor, eu sei. Compare-o com o Ano do Dragão de Fogo (1976), ou mesmo com o Ano do Dragão de Terra (1988), que eu tive a felicidade de passar com amigos chineses na Tailândia – se me lembro bem, esse joguinho de cartas foi parte dos rituais de prosperidade. Mas acredite: Por conta da pontualidade e da primazia desse ratón en la fiesta de Buda, este é um ano muito bom para começar, iniciar, transformar, renascer, renovar, recomeçar. E por conta do elemento terra, para fazê-lo de forma realista e pragmática.

Então, Toni, que você tenha me interrompido – e bem na hora da revolta dos trabalhadores de Fordlândia contra o hamburger!– porque viu um ratão passando na frente do Vanilla Caffè, isso não é indicativo da sua dispersividade, da chatice das minhas estórias, nem do tamanhão desse rato. Isso, agora me está claro, é indicativo da sua boníssima fortuna!

KUNG HEY FAT CHOI!

No Ano do Rato de Terra

Eu
Meus pais
Meus irmãos
Meus parentes
Meus mestres
Meus amigos
Todos os que me são indiferentes
Todos os que não me agradam
Todos os seres vivos

Todos nós

Que tenhamos saúde, felicidade e paz
Que nenhum mal nos fira
Que nenhuma dificuldade nos atinja
Que nenhum problema nos angustie
Que sejamos sempre bem sucedidos
E que tenhamos paciência, coragem, compreensão e determinação para enfrentar e superar dificuldades, problemas e fracassos – que às vezes são inevitáveis

Adaptado de Metta, prática do amor bondade

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

ELA ME FAZ TÃO BEM

Ela me encontrou, eu tava por aí, num estado emocional tão ruim. Me sentindo muito mal. Oops, esse é o Lulu Santos falando da Scarlet Moon. Mas poderia ser eu falando de quem me tirou, melhor, tirou a minha menininha rejeitada do poço.

Precisei de um monte de chutzpah para contar-lhe que, como parte de uma dinâmica no ISH, meu grupo de desenvolvimento pessoal, eu havia interagido com a minha criança interior, a minha menininha rejeitada. E fiz o exercício com uma entrega que entusiasmaria Stanislavski, o do método (de dramaturgia) de memória emotiva. Yada yada yada um choro copioso, uma tensão no grupo, uma conexão, uma catarse. Final feliz.

Final? E não é que nos dias seguintes a menininha rejeitada vira e mexe aparecia? Não sei se ela se encantou com as Barbies, as Bratz e as Pollies de 2007 – mas nada a fazia voltar aos anos 70. E o choro? Ai, ai, ai.

Mas uma coisa é ter o chutzpah para contar essa história. Outra coisa, e bem diferente, é ouvir essa história prosaica, quase bizarra, sem transformá-la em material para indignação, escárnio, desdém. Não. Essa blogueira que diverte 180 fiéis leitores todos os dias com seu raciocínio rápido, sua língua afiada e sua prosa desbocadíssima – she did not kiss and tell!

Uma solução teria sido desconversar, que ema, ema, ema, cada qual com seu problema. Não foi assim. Ou logo contar algo que a inquietasse, a preocupasse – há quem só saiba falar de si, e há quem goste de competir até em angústia. Não ela. Outra solução teria sido distrair-me, entreter-me. Sim, pois ela sabe contar um bas-fond como ninguém. Mas não ali, sua sensibilidade sussurrou-lhe. Houve – o que? Um sentir-me ouvida, compreendida, acolhida – ah, não sei. Falta-me vocabulário terapêutico para descrever essa... conexão luminosa. Pronto: Foi uma conexão luminosa!

Está certo que ela está se mudando para Dubai, esse paraíso no deserto, para ficar próxima do maridão e ter, como disse o übber blogger Carioca, vinte vezes mais felicidade e sucesso. Mas estar longe dela vai ser um enorme exercício de desapego.

Por ajudar a devolver a minha menininha aos anos 70, e por fazer à mulher que sou nos anos 2000 tão bem, Kaká... behibek!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

DANÇA COMIGO?

Adoro a energia e o movimento dessa cena de Devdas em que Aishwarya Rai e Madhuri Dixit (e mais um monte de gente linda) cantam e dançam ao som de Dola Re Dola.

Muito do vigor, da agilidade, do frescor da cena deve-se à câmera, não é mesmo? A câmera que dança deliciosamente ora com Aishwarya, ora com Madhuri – e que por vezes parece correr de uma para a outra, como que não querendo abrir mão de nenhuma. A câmera que em outras vezes encanta-se com a harmonia, a empatia entre as duas mulheres – elas não dançam para competir pela atenção de uma terceira pessoa, como é comum em duetos femininos, mas para criar conexão. A câmera que imprime a velocidade e a tensão da cena final, onde se alternam duas imagens. Numa, a câmera circunda as mulheres que, em êxtase coletivo, aproximam-se numa mandala. Na outra, a câmera gira sobre si mesma para seguir o homem de bigodão que se desloca obstinado.

Não falo uma palavra de hindi, não li ou vi Devdas. Mas esses círculos, mandalas e giros me contam que a situação (seja lá qual for) está spinning out of control: O que o homem de bigodão está por anunciar, estou certa, vai acabar com a festa.

Isso é o melhor de Bollywood. Ah, é ainda mais: Isso é o que o melhor de Bollywood se torna quando morre e vai para o céu.


sábado, 2 de fevereiro de 2008

MAKE MISS ME MRS YOU

Para o Introspective, que também adora

No ano passado, já lhes contei extensamente, passei o carnaval entre Salvador e Arraial d’Ajuda. Só não ensandeci com a overdose de alto-astral do carnaval baiano porque a contrabalancei com a contenção do Zero 7. Carreguei meu mp3 com o cd Simple Things, de um cara fofo que conheci num café incrível na Chapada Diamantina. Não parei mais de ouvir.

Se eu expressasse a minha melancolia tão lindamente quanto Sia Furler em Distractions, seria uma solução? Não sei. Mas uma rima, isso seria.

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QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Une fois de plus... bonjour, préciosité!

Por um dos mecanismos pelos quais o calendário gregoriano sincroniza o ano civil com as quatro estações, mal começou o ano e o carnaval já chegou. O carnaval não acontecia tão cedo desde 1913.

O papa Gregório 13 cercou-se dos melhores astrônomos e matemáticos para fazer com que a Páscoa caia, ano após ano, no primeiro domingo após a lua cheia que segue o equinócio da primavera no hemisfério norte. Em 2008, esse dia é 23 de março. Subtraindo 40 dias, eis o carnaval.

Ah, não é bem assim. Subtraindo 40 dias de 23 de março chega-se a 12 de fevereiro – que dia é esse? Tive que fazer um desenho para finalmente entender tudo isso. Ou, como diria a minha amiga Bia, para apropriar-me de tudo isso.

Googlando, descobri vários sites que sustentam que o cálculo consiste em subtrair 40 dias do domingo de Ramos, o domingo anterior ao de Páscoa, para chegar-se à terça-feira de carnaval. Funcionou. Mas como uma gambiarra. Pois não faz sentido teológico, não é mesmo? Esses não são quaisquer 40 dias, mas os da Quaresma – o período onde os cristãos são convidados à ascese e à reflexão da paixão e da morte de Cristo. A Quaresma não pode acabar no domingo de Ramos, pois ele antecede a paixão e a morte de Cristo.

O cálculo fiel à teologia consiste em subtrair 40 dias do sábado de Aleluia, excluindo-se os domingos, para chegar-se à quarta-feira de Cinzas. Excluem-se os domingos porque todo domingo é uma mini-Páscoa, é dia do senhor, é dies dominicus. Há seis domingos no período.

Mas o que há entre sábado de Aleluia (22/3) e quarta-feira de Cinzas (6/2)? Para quem, como eu, pensa em períodos (e usa HP 12C ou Excel), há 45. Mas para a matemática cristã há 46 – intuo que ela pense em dias. Entre sexta-feira Santa e domingo de Páscoa há três dias e dois períodos. Daí dizer que Jesus “ressuscitou ao terceiro dia” – e não dois dias depois da sua morte.

2008
equinócio de primavera no hemisfério norte: 20/3
primeira lua cheia após equinócio: 21/3, sexta-feira
primeiro domingo após lua cheia, Páscoa: 23/3

domingo de Páscoa: 23/3
sábado de Aleluia: 22/3
menos 40 dias, excluindo domingos: 6/2, quarta-feira de Cinzas

Sim, sou nerd. Fiz um desenho, entendi tudo isso, criei novas sinapses – e estou feliz da vida.

Em homenagem à Bia e ao seu maridón Waldyr, dois buarqueanos roxos, deixo-os com Quando o Carnaval Chegar. Na interpretação lírica do seu compositor Chico, e na interpretação, er, épica de Engenheiros do Hawaii. No meio de um protesto político, há quanto tempo desejo seu beijo molhado de maracujá? O que é esse homem?


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ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 9

Eu havia apagado esse post por ser, depois me dei conta, a síntese da arte do meu preciosismo. Mas o Shoichi achou ótimo. Além do mais, como diria Thich Nhat Hanh, que oportunidade para reconhecer, aceitar, acolher mesmo o que em mim não me agrada: Bonjour, préciosité!

Falemos então do guarda-chuva Burberry – esse objeto que não apenas abracadabra apareceu. Ele é o aperfeiçoamento do “telhado portátil” criado há cerca de quatro mil anos na Mesopotâmia para proteger nobres e governantes do sol. Yada yada yada viajantes europeus nos séculos 17 e 18 encantaram-se com aquele objeto que vários povos asiáticos da Rota da Seda usavam para proteger-se do sol – e, impermeabilizado com cera, para proteger-se da chuva. Levada à Europa, a sombrinha foi logo adotada pelas mulheres. Mas e o guarda-chuva?

Entre 1750 e 1780 o inglês Jonas Hanway foi objeto de rejeição e chacota por usar um guarda-chuva em Londres. Os puritanos consideravam-no frívolo; os condutores de charrete-táxi acusavam-no de conspirar para o fim do seu ofício. Mas o mundo dá as suas voltas e – supresa! – os britânicos apropriaram-se daquele objeto asiático, emprestaram-lhe um nome latino e incorreto (umbrella vem do latim umbella, pequena sombra – é a sombrinha!) e o tornaram quintessentially British.

Thomas Burberry e a sua Burberry, dois quintessential Brits desde 1856, trataram de colocar uma marca, um logo e um xadrezinho no forro dos guarda-chuvas de sua produção. E, reconheçamos, deram no guarda-chuva um banho de tecnologia. Fizeram (ou copiaram quem fez) com que ele abrisse e fechasse com rapidez, que resistisse à ferrugem e ao mofo, que não desbotasse, que secasse de imediato, que não machucasse outros transeuntes, que resistisse a ventos fortes, que quando aberto protegesse um adulto, e que quando fechado tivesse 20 cm e pesasse 200 gramas. E então lhe deram um banho de desmaterialização. Não importa do que é feito, ou onde é feito: Um guarda-chuva Burberry conecta-nos com a hip Britain.

By George!

Um guarda-chuva Burberry não é só a síntese elegante e portátil da arte milenar de proteger-se do sol e da chuva: Ele é também a síntese da arte de me fazer acreditar que um mero objeto é um ícone!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 8

Para o hinduísmo, o universo tem um som. Esse som é om. Para mim, o meu complexo de vira-lata tem uma interjeição. Essa interjeição é "eu, Maria da Glória?".

Não sei bem de onde surgiu isso, nem quem é Maria da Glória. Mas foi na época em que eu estudava Direito na USP. Na São Francisco, como ainda se diz. Toda vez em que eu me sinto tratada com alguma reverência, algum privilégio, quando recebo algum galanteio, logo vem a interjeição: “Eu, Maria da Glória?”

Noite de sábado de muita chuva e de muita fila na porta da The Week. O meu acompanhante esboça-me um bas-fond: “Ah, fila não. Estamos aqui para emprestar o nosso prestígio à casa”.

E logo vem a minha interjeição: “Eu, Maria da Glória?”

E logo vem o André Almada nos tirar da chuva e da fila com as nossas pulseirinhas VIP cor de laranja.

ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ ॐ

Bom, já que falei de hinduísmo, minha trilha sonora aqui é a deliciosa Chunari, Chunari. Com essa canção, a ótima Mira Nair homenageou Bollywood no divertido Monsoon Wedding.

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