sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O MEU PÓS-9/11

Uma semana havia se passado desde os ataques de 11 de setembro, e eu ainda estava presa em Manhattan.

O meu anfitrião, um executivo importante do Morgan Stanley, passava o dia entre reuniões e conference calls e planilhas de Excel. Para mim, ele estava in denial. Para ele, ele estava quantificando o impacto do boom da economia americana no valor de ativos financeiros. Sim, em 9/18 já se esperava que os Estados Unidos retaliassem com uma guerra. Ainda não se sabia qual daqueles países de nomes difíceis e hábitos estranhos seria o inimigo nessa guerra. Para os mercados financeiros, isso não importava. Bastava que houvesse uma guerra.

Desejo de vingança? Crença na violência como solução de conflitos? Ah, isso é para os white trash do meio oeste. Os mercados financeiros são racionais. É que guerras e desastres e as reconstruções do que foi destruído geram enormes despesas governamentais. E yada yada yada uma economia vibrante! E como os soldados e civis que morrem nas guerras não são os filhos dos investidores – ah, isso está bem substanciado em Fahrenheit 9/11 de Michael Moore.

Meus amigos da pracinha de cachorros em Flatiron já haviam bolado um plano de fuga para mim: Tão logo as pontes e os túneis reabrissem, eu tomaria um trem para Montreal e, de lá, um avião para São Paulo. Eu estava hospedada em Union Square, ao redor de prédios históricos – para os meus amigos da pracinha, alvos de novos ataques terroristas. E eles, porque não fugiriam para Montreal comigo? Porque em Manhattan eles tinham propriedade, carreiras, famílias... cachorros!

Ah, eu também tinha o meu (o quase meu) cachorro Clio (então Cleo) em Manhattan. E essa saída via Montreal implicaria em deixá-lo nos Estados Unidos – isso não! A boa notícia daquele 9/18 é que, numa Nova York aterrorizada e paralisada, eu havia conseguido regularizar a exportação do Clio junto ao USDA. Agora faltava o consulado brasileiro – apenas!


Enquanto não conseguíamos a autorização do consulado, eu e o Clio levávamos muffins e flores aos corpos de bombeiros, ajudávamos os parentes e amigos dos desaparecidos a colar cartazes pela cidade, e participávamos de manifestações anti-guerra. Quase sempre ao som de Bebel Gilberto, a minha trilha sonora daquele verão. Minha, não – de todo mundo! A Bebel estava até naquela temporada de Sex and the City.

Deixo-os com Tanto Tempo, a mais dreamy das canções de Bebel Gilberto.

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I made this music player at MyFlashFetish.com.

4 comentários:

Anônimo disse...

Wawaweewa, Lux. Não sabia que você estava lá justamente em 2001. Ok, one more subject para nossa girl's night.

Sixxx disse...

Putcha, tenho adorado os textos desse blog! ;-) E sempre que se fala no Onze de Setembro, eu fico um pouco mexido... Nos três anos anteriores ao 11/9/2001 eu passei essa data em Manhattan e justamente em 2001, fui comemorar o meu aniversário de namoro (27/8, meu namorado estava de férias na época) e voltamos três dias antes dos atentados... E como era a sua primeira vez em NYC subi com ele no World Trade Center, ficamos horas tomando sol no Battery Park e fiquei em estado de choque quando, já no Brasil, minha mãe me acordou e mandou eu ligar na CNN. Vários amigos meus estavam ainda na cidade por conta da Semana de Moda, e eu não conseguia acreditar no que estava vendo... Não conseguia acreditar... Mas, gostei de ler que você colaborou com aqueles que precisavam nesses dias tão tristes para o mundo quanto foram aquelas semanas em setembro, Lúcia... Grande beijo, Shoichi

Lúcia BL disse...

Respostas:

libs, ma belle: em 2001 eu estava em nova york como a irmã da celena está no mundo: a passeio. a trabalho eu vivi em nova york entre 2002 e 2005. qualquer hora escrevo sobre minha vida em wall street. ainda não sei o que vou escrever. mas vai conter a expressão you're so money! onde mais isso seria um elogio?

shoichi-san: estou escrevendo um post para agradecer as palavras muito generosas e especiais que li aqui de você, do carioca e do alberto. aguarda um pouquinho? beijo grande

Alberto Pereira Jr. disse...

evento lastimável o 9/11...
deve ter sido muito difícil para vc que estava em NY...



bebel gilberto e suas lindas canções com certeza aplacaram um pouco a dor..