sábado, 19 de janeiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 3

“Caramba!”, exclamo enquanto procuro, desajeitada, fechar o meu novo guarda-chuva de cinco reais, “é um pouco como estar em Cem Anos de Solidão”. Ela me olha com hesitação. “Essa chuva que não pára”, tento outra vez, “não faz você se sentir na Los Angeles de Blade Runner?”. “Onde?”, ela pergunta, confusa.

Meu impulso é responder com Águas de Março. Sim. Para receber mais um olhar de “hã”. Para deixar claro que não compartilhamos referência alguma. Para lembrar-nos que toda piada precisa acompanhar-se de uma explicação; toda informação, de uma nota de rodapé. Para ilustrar que nossas memórias afetivas são distintas. Que não há nada que nos possa conectar.

Paro. Respiro. E então respondo – melhor, cantarolo. “Now that it's raining more than ever, know that we'll still have each other. You can stand under my umbrella. You can stand under my umbrella. Ella, ella, ê, ê, ê.”

Ela sorri. Agora sim. Fecho o guarda-chuva. Sorrio de volta.