quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

I NEVER BOTHER WITH PEOPLE I HATE

Para o Too-tsie, em resposta ao seu comentário no post KUNG HEY FAT CHOI!, dizendo que "desejar tudo de bom a TODOS é de uma elevação espiritual ímpar"

Surpresa! Eu pratico o Metta (amor bondade, amor universal ou amor cordial) justamente porque me é difícil desejar tudo de bom aos que não me agradam. E porque conseguir fazê-lo, acredito, é a única forma de manter a minha mente tranqüila e o meu coração aberto.

Eu uso “os que não me agradam”, mas o texto original diz "inimigos". Desejar tudo de bom aos meus inimigos? Há aí um paradoxo irreconciliável, não? Como aquele do “amai os vossos inimigos” cristão ou do “I never bother with people I hate” de The Lady is a Tramp. If I hate a person, I already bother too much with them. Quando eu li o papa Bento 16, na encíclica Deus Caritas Est, referir-se ao amor à “pessoa que não me agrada ou que nem conheço sequer”, adotei.

Mas de volta ao Metta. Eu pratico sempre que me sinto machucada por alguém. Num primeiro momento, sentir raiva dessa pessoa, ou contemplar uma retaliação (oops, tucaneei!) parece irresistível – até porque isso me protege da dor e da tristeza, não? A dor e a tristeza são dilacerantes, são yin, são paralisantes, e de repente que vontade de chorar – e chorar até ficar com dó de mim! Mas a raiva – ah, que poder, que fuerza, que yang, que mobilização, que Scarlett O'Hara jurando para si mesma "eu nunca mais vou passar fome"!

Mas uma coisa é sentir, pontualmente, dor, tristeza ou raiva em decorrência de um conflito interpessoal. Outra coisa, e muito diferente, é manter ou cultivar esses sentimentos. (Nem preciso dizer que ainda outra coisa é agir nesses sentimentos, sem reflexão – por exemplo, engajar-se em maledicência.) Aliás, sentir dor, tristeza ou raiva é muito importante – é assim que eu me dou conta de que não estou sendo atendida em algo de que necessito. Respeito, lealdade, amor, carinho? Mas assim que identifico a minha necessidade não atendida, trato de fazer cessar, de curar a minha dor, tristeza ou raiva. Como?

É aí que entra o Metta. Antes de dormir? Desejo tudo de bom àquela pessoa por quem me senti machucada. Pensei nela? O mesmo. Estou no trânsito? Também. Entrei numa fila? De novo. No começo é difícil de engolir. Rola um certo me-engana-que-eu-gosto. Mas pela repetição, pelo poder do mantra, não sei bem como isso se opera – daqui a pouco estou genuinamente a desejar tudo de bom àquela pessoa. E um pouco depois, vai entender, não me sinto mais machucada. Curei-me.

Felizmente desejo tudo de bom a toda e a cada pessoa no mundo. Até porque, ainda mais felizmente, não me vi machucada, lesada ou injustiçada no limite da minha sanidade ou dignidade. E se eu tivesse um filho cruelmente assassinado? Se eu tivesse sido vítima de abuso sexual na infância? Se eu tivesse sido condenada por um crime que não cometi?

Mas mesmo no meu universo de ofensas menores, perdoar é diferente de reconciliar. As pessoas com as quais eu não consigo construir ou reconstruir dinâmicas saudáveis, ou criar comunicação honesta – para elas, tudo de bom. Mas também o meu I'm a bubble, goodbye!

Deixo-os com The Lady is a Tramp nas interpretações de Frank Sinatra e de Ella Fitzgerald. Ouví-las assim, uma depois da outra, confirma que os dois são os maiores intérpretes de standards americanos. Mas também ressalta que o Blue Eyes é o mestre do cantar falando, falar cantando – he is so the guy!


music player
I made this music player at MyFlashFetish.com.

2 comentários:

Too-Tsie disse...

No ano passado um senhor bateu no meu carro pois cruzou uma rua de maior movimento sem se importar com a placa PARE gigante na esquina virada pra ele. Tentou fugir mas consegui fechar seu carro em outra quadra, disse que jamais fugiria, apenas estava assustado com o ocorrido!(sei!)
Descobri que sua carteira estava estourado em pontos, e ele me prometeu de pés juntos pagar os danos se eu não chamasse a polícia para registrar BO.
Os dias se passaram, e tentei entrar em contato, o discurso mudou, mandou eu procurar meus direitos. Como disse um taxista que conversei ontem voltando pra casa: tomei na tarraqueta!
It's all good.
Quem gosta de ser o trouxa?
Passei por todos os estágios possíveis, raiva, frustração, etc.
Hoje em dia, só quero esquecer, que esse dim dim esteja sendo muito útil a ele.
Só peço ao Almighty que não me faça encontrar a figura, ever.

Bom, vamos ver se eu consigo pelo menos lembrar o Metta nessas horas pois meu cérebro é muito seletivo, ele separa pessoas que merecem o "forgive & forget". Alguém explica pro Teco que ele não é Deus!

Como diz Donna Summer num fubá antigo circa 2000: Love is the healer, come heal me!

Lúcia BL disse...

Resposta:

olá, tootsie!

love is a healer, come heal me! adoro!

lamento muitíssimo o que esse senhor fez para você. espero que essa traição tenha apenas minado a sua confiança NELE - não no resto das pessoas que lhe pedem um voto de confiança.

mas sabe o que eu penso? que perdoar esse senhor por sua traição não tem nada a ver com perdoar a dívida patrimonial que esse senhor tem com você. eu, no seu lugar, iria procurar os meus diretchos sim. e o fato de eu ter perdoado a traição desse senhor significaria apenas que, enquanto eu buscasse os meus diretchos, eu seria movida por justiça e pela proteção do meu patrimônio - e não por vingança e raiva!

a boa notícia é que eu mantenho uma OAB justamente para esse tipo de situação. e terei todo o prazer do mundo de ajudá-lo a buscar a reparação desse dano, sem honorários.

love is a healer, come heal me!