Desde então, acredito que mudei eu – e os tempos também. Primeiro, hoje eu receberia esse convite como um elogio, e provavelmente o aceitaria. Ok, Sexy não é Dazed & Confused ou In Style – mas seriam só os meus pés. Segundo, hoje eu presumiria que esse convite refletiria a opinião da Ana sobre os meus pés – e não sobre o tipo de moça que eu sou. Por fim, na época eu imaginava que pés eram um entre dez ou doze fetiches – hoje eu sei que são um entre milhares.
Nas últimas semanas conheci mais dois desses milhares de fetiches.
Através do Tony Goes conheci o blog Sem bolso. São histórias do Daniel, um jovem brasileiro que estuda em Londres, e que se mantém fazendo faxina pelado. De roupa, imagino, ele ganharia seis ou sete libras por hora. Pelado, ele nos conta, ganha vinte libras por hora. Como isso também é novidade para o Daniel, ele nos brinda com uma versão terceiro milênio de Entfremdung – o estranhamento do trabalho de que fala Karl Marx. Em inglês esse fetiche se chama nude cleaning.
Através de uma amiga, que por ora manterei anônima, conheci o site 89. Talvez ela não se oponha a ser identificada: No seu blog ela já falou do seu amigo Richard – e ele é, er, battery-operated. Enfim, pensei tratar-se de um movimento pela volta do rock'n roll na rádio 89. Nope! Trata-se de material pornográfico altamente segmentado e organizado por gênero, etnia, atributos físicos, idade, prática, fetiche. Sim, como num menu. (Só sexo consentido, por pessoas em maioridade sexual.)
Para se ter acesso a esse universo de imagens, é preciso fornecer o número do cartão de crédito. Mas há amostras grátis, algumas das quais eu provei. Amigos, digamos que essas imagens não deixam nada à imaginação. Digamos que foram produzidas a dez dólares por hora. Digamos que não é o sexo de Victoria Abril e Javier Bardem em Entre las Piernas, ou de Victoria Abril e Antonio Bandeiras em ¡Átame! BHY, sobre essa cena,
Enfim. No meio de imagens muito explícitas no 89, a que me causou um, er, estranhamento foi a de duas moças de lingerie, sentadas numa cama, enchendo bexigas, dessas de aniversário. Et ça c’est tout. Em inglês esse fetiche se chama ballooning.
A trilha sonora desse post é 99 Luftballons. Aqui a muito engajada Nena nos fala de bexigas que são soltas para protestar contra uma nova corrida armamentista, no começo dos anos 80, entre Estados Unidos e União Soviética. Muita coisa mudou desde então. E não falo apenas da ordem geopolítica ou do corte de cabelo de roqueiros. Hoje, soltar um monte de bexigas para protestar ou celebrar é um no-no ambiental: Bexigas são muito lindas no ar – mas causam danos terríveis quando retornam à terra ou à água. E como bem sabem os atores do 89, tudo que sobe, desce.
