domingo, 25 de maio de 2008

RUN, LÚCIA, RUN 4

Feriado de 21 de abril, 17 horas. Chego ao clube Paulistano. Tenho um encontro com a Emília na Avenida Paulista às 19 horas para assistir a My Blueberry Nights. Procrastinei o dia todo. Deixei essa janela, essa fresta entre 17 e 18 horas para treinar.

Chego ao clube Paulistano mas não vou logo às esteiras. Não. Passo pelo bar, pelo café. Procuro, então me dou conta, uma Raposa ou um Gato. Não uma Raposa ou um Gato para me convencer, como ao Pinocchio, a “mangiare, bere, dormire, divertirmi e fare dalla mattina alla sera la vita del vagabondo”. Não. A minha Raposa ou o meu Gato quer a minha opinião sobre a taxa de câmbio, desabafa comigo as suas preocupações com o filho adolescente, pondera porque devo ser contra a reforma da piscina projetada por Gregori Warchavchik. Não me basta distrair-me e então concluir que ficou tarde para treinar. Não. É preciso, BHY, que eu sinta que renunciei a esse treino por um bem maior, que eu deixei de treinar por altruísmo.

Passo pelo bar, pelo café. Nada de Raposa, nada de Gato. O celular toca. É a Marise. Explico-lhe que em cinco dias farei a Reebok 10 km, que desde aquele momento Scarlett O’Hara treinei três vezes. Sim, três vezes apenas. Em dois dos treinos, corri, melhor, trotei por trinta minutos a 7 km/h; no terceiro trotei sessenta minutos a 6 km/h. Nessa velocidade é mais fácil caminhar do que correr ou trotar.

Cada um desses treinos – e eu digo agora, Fabiano, o oposto do que eu disse antes –, cada um desses treinos teve lá o seu prazer: O prazer da missão cumprida, o prazer do apesar-dos-pesares-eu-fiz, o prazer do até-que-não-foi-tão-ruim, o prazer do até-que-eu-gostei. No final de cada um desses treinos parecia que agora-vai-deslanchar, amanhã-vai-ser-tão-fácil-treinar.

Qual o quê.

O que está em jogo aqui, Marise, além da força do hábito?

Não são só quarenta anos de força do hábito, ela pondera lembrando argumento de Drauzio Varella, mas também milhares (ou mesmo milhões) de anos de herança ancestral. Fomos construídos para viver num ambiente de escassez de alimentos: Acumulamos energia na forma de gordura, poupamos energia através da preguiça. Devo fazer exercícios físicos? Claro, diz o Dr. Drauzio. Devo esperar a disposição para fazê-los? Não, a disposição jamais virá: Faça exercícios físicos com disciplina militar.

Estou muito tentada, respondo, a poupar energia e a ficar conversando com você. Silêncio. Desligou, Marise?

Claro: Marise é espiritualidade em tudo, o budismo no dia-a-dia, a pessoa mais aqui e agora que eu conheço. E aqui e agora, ela é o Grilo Falante.

Quarto treino: 45 minutos a 7 km/h.

4 comentários:

Unknown disse...

Como sempre, vc brinca com as letras com maestria.
O filme é perfeito, a foto que já corria internet, de uma delicadeza indescritível, assim como seu resumo poético para a nossa Berg: Grilo falante rs
Perfeito !
Passei 4 dias com o Grilo falante, imagina, né ??? rs
beijos

Anônimo disse...

Se Dr Drauzio lesse o seu blog, lhe lembraria que o inverno se aproxima, e com ele o acúmulo de gordura em nossos corpinhos, que pelo que me parece, continuam quase inertes... Mande seu altruímo às favas, seja egoísta em relação a atingir seus objetivos, e, Corra Lúcia, Corra! Estou do lado de cá nas mesmas tentativas frustras, rsrsrs...

MBerg disse...

Oi queridona. A conclusão do Varella é: levante a bundinha do sofá e pratique uma atividade física que te ajude a manter a saúde física (não necessaariamente o corpitcho da Ivete Sangalo) e mental. Pra isso não conte com os seus instintos animais e sim com o seu intelecto, atributo exclusivo do bicho homem. Beijocas.

Alberto Pereira Jr. disse...

adorei essa parte de herança genética.. realmente, ânimo para treinar não vem fácil.. mas sabemos que é necessário..