quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

NOW IS THE WINTER OF OUR DISCONTENT MADE GLORIOUS SUMMER

Não dá para escapar, nem para negociar: Todo mundo tem que passar por um. O da Rainha Elizabeth foi 1992, o meu é 2007. Refiro-me, é claro, ao annus horribilis.

Como no universo tudo tende a um equilíbrio, a uma compensação, 2008 será o meu annus mirabilis. Deus, na sua infinita bondade, não fará por menos.

É claro que um presente dessa abundância pede que eu esteja, er, sintonizada para recebê-lo e usufruí-lo en todo su lujo y esplendor. Então comecei dezembro em pleno modo feng shui, fazendo desbloquear e circular um monte de coisa e gente e energia na minha vida, e criando espaço para as boas novas.

Parte importante desse movimento, segundo os mestres, é cultivar um sentimento de gratidão. Gratidão por aquilo que mantenho, gratidão por aquilo que estou por receber, gratidão por aquilo de que me desfaço ou despeço, e gratidão por aquilo que foi o meu inferno.

Gratidão por aquilo que foi o meu inferno? Será que é essa a senha para que o inverno do meu descontentamento torne-se verão glorioso?

E quando esse inferno é a morte de alguém amado? Para quem perdeu alguém amado – e basta amar para passar por isso – a aceitação da morte já é tarefa sobre-humana. O que dizer de sentir gratidão pela morte? E que tipo de gratidão seria essa?

Talvez se trate de uma gratidão como aquela que canta Violeta Parra em Gracias a la Vida – obrigada à vida que me deu o riso e o pranto, pois assim distingo felicidade de tristeza. Ainda não sei. Talvez eu encontre alguma inspiração em A Liberdade é Azul, de Krzysztof Kieslowski. Ou no amor fati de que fala Nietzsche: Não só suportar o que é necessário, feio, doloroso – mas amá-lo. Ou em Shiva, deus hindu da transformação, que destrói para construir algo novo. Ou mesmo na sabedoria popular que diz que quando Deus fecha uma porta, abre uma janela. Ainda não sei.

Por ora me vejo visitada – talvez seja o meu cérebro reptiliano, como querem os cientistas, talvez o pecado que mora em mim, como diz Paulo, talvez o meu nafs al-ammara, como dizem os sufis, talvez a minha sombra, como prefere Jung –, por ora me vejo visitada por um sarcasmo quase irresistível, por um sarcasmo que chega irresistível mas que logo se dissolve. E que deixa apenas aqueles punchlines tão comuns nas sitcoms americanas:

Thank you... not!

Thanks for... nothing!

2 comentários:

Anônimo disse...

e que 2008 seja seu annus mirabilis :)

beijo beijo

Anônimo disse...

Dear Lúcia,queria muito parabenizar a você pelo seu blog: textos bem escritos, ótimo repertório e uma consciência de si mesmo tão nítida que chega a ser emocionante (um ótimo exemplo para os leitores desse blog rsrsr)... E aproveito a oportunidade para desejar um Natal lindo para você e toda a sua família e que 2008 para você seja um endless summer... as you wish!;-) Muita lux! Grande abraço, Shoichi