quinta-feira, 10 de julho de 2008

O SEU OLHAR AINDA MELHORA O MEU

Postado originariamente em 9/7/2007, O SEU OLHAR MELHORA O MEU. Desde então muita coisa aconteceu na minha vida – mas não conheci ninguém com uma narrativa como a da Ludeju. Feliz aniversário!

“Jallalla!” Quando ela começa a falar com aquela voz grave e linda, a Ludeju tem toda a minha atenção, os meus sentidos, a minha emoção. Ela não vai reportar uma idéia, uma sensação, um sentimento – enfim, ela não vai apresentar-me (apresentar-nos) algo pronto como ela o percebe, sente, vivencia. Não. Como é que eu explico? É como se a Ludeju fosse tecer, fabricar, compor essa idéia, essa sensação, esse sentimento comigo – palavra por palavra, gesto por gesto, olhar por olhar.

Mal começo a dar forma às suas palavras, seus gestos, seus olhares – e a Ludeju salta para uma segunda idéia, sensação ou sentimento. Sem que eu perceba a conexão entre eles, ou intua aonde a Ludeju quer chegar. Por alguns instantes perco-me na profusão, na exuberância dessas palavras, gestos, olhares, pausas, entonações, posturas. Tudo isso para que mesmo? Para onde estamos indo? E então a Ludeju salta para uma terceira idéia. E outra, e outra.

E chega o momento em que essas idéias para mim incompletas e até então estanques começam a dialogar, a se cruzar, a se entrelaçar. E como camadas numa tela de Beatriz Milhazes, ou como núcleos de personagens num filme de Robert Altman ou Alejandro González Iñárritu, essas idéias inicialmente estanques encaixam-se, combinam-se, completam-se... para compor algo surpreendente, revelador!

Será que me fiz entender? E se eu tentasse de outro modo? O que a Ludeju não faz – apresentar algo pronto como ela o percebe, sente, vivencia –, isso eu disse bem. Mas o que ela faz, então? Ela cria uma conexão? Sim, mas isso é amplo demais. E se eu disser que ela me transporta ao seu mundo interno? Assim começou melhor. E lá, eu no seu mundo interno – ou ela no meu mundo interno, vai saber –, lá a Ludeju faz com que eu pense com ela uma idéia, tenha com ela uma sensação, sinta com ela um sentimento. E quando ela anuncia – jallalla! – que disse o que tinha a dizer, não é mais a idéia da Ludeju, a sensação da Ludeju, o sentimento da Ludeju. Essa idéia, essa sensação, esse sentimento... agora são meus também! E com eles meu horizonte se ampliou, meu coração abriu, meu olhar melhorou.

Ficou ainda mais confuso? Barroco? Sei que não me explico bem. Talvez haja um vocabulário, no alemão ou no grego, ou entre os neologismos de Jacques Derrida, Naom Chomsky ou Martin Heidegger, um vocabulário que expresse esse pensar-com, esse ter-a-sensação-com, esse sentir-com. Ou talvez isso seja algo do qual não se fale – seja algo que apenas se sinta. Talvez o Arnaldo Antunes tenha chegado próximo ao cantar um olhar-com... um olhar que ora é seu, ora é meu.

Taí: Se a minha vida tivesse uma trilha sonora, cada vez que a Ludeju aparecesse nós ouviríamos Arnaldo Antunes e Zaba Moreau cantando O Seu Olhar.

Um comentário:

Anônimo disse...

é você que melhora o meu olhar!