segunda-feira, 31 de março de 2008

CADA UM COM O SEU FETICHE

Há cerca de dez anos Ana Fadigas, então editora da Sexy, convidou-me para ter meus pés fotografados para um ensaio para a revista. Recebi aquele convite com um je ne sais quoi de indignação. Que parte de mim, pensei, está sugerindo que eu não sou uma moça pheena? Estávamos no spa Sete Voltas, onde havíamos nos conhecido há alguns dias. E interagíamos, até então, em torno de temas intelectualizados – como a modernização editorial do Estadão, da qual ela havia participado ativamente.

Desde então, acredito que mudei eu – e os tempos também. Primeiro, hoje eu receberia esse convite como um elogio, e provavelmente o aceitaria. Ok, Sexy não é Dazed & Confused ou In Style – mas seriam só os meus pés. Segundo, hoje eu presumiria que esse convite refletiria a opinião da Ana sobre os meus pés – e não sobre o tipo de moça que eu sou. Por fim, na época eu imaginava que pés eram um entre dez ou doze fetiches – hoje eu sei que são um entre milhares.

Nas últimas semanas conheci mais dois desses milhares de fetiches.

Através do Tony Goes conheci o blog Sem bolso. São histórias do Daniel, um jovem brasileiro que estuda em Londres, e que se mantém fazendo faxina pelado. De roupa, imagino, ele ganharia seis ou sete libras por hora. Pelado, ele nos conta, ganha vinte libras por hora. Como isso também é novidade para o Daniel, ele nos brinda com uma versão terceiro milênio de Entfremdung – o estranhamento do trabalho de que fala Karl Marx. Em inglês esse fetiche se chama nude cleaning.

Através de uma amiga, que por ora manterei anônima, conheci o site 89. Talvez ela não se oponha a ser identificada: No seu blog ela já falou do seu amigo Richard – e ele é, er, battery-operated. Enfim, pensei tratar-se de um movimento pela volta do rock'n roll na rádio 89. Nope! Trata-se de material pornográfico altamente segmentado e organizado por gênero, etnia, atributos físicos, idade, prática, fetiche. Sim, como num menu. (Só sexo consentido, por pessoas em maioridade sexual.)

Para se ter acesso a esse universo de imagens, é preciso fornecer o número do cartão de crédito. Mas há amostras grátis, algumas das quais eu provei. Amigos, digamos que essas imagens não deixam nada à imaginação. Digamos que foram produzidas a dez dólares por hora. Digamos que não é o sexo de Victoria Abril e Javier Bardem em Entre las Piernas, ou de Victoria Abril e Antonio Bandeiras em ¡Átame! BHY, sobre essa cena, BHY, eu e o meu ex-marido Raphael tivemos o privilégio de conversar com Pedro Almodóvar na noite de autógrafos de Patty Diphusa em Nova York. Qualquer hora eu conto a história.

Enfim. No meio de imagens muito explícitas no 89, a que me causou um, er, estranhamento foi a de duas moças de lingerie, sentadas numa cama, enchendo bexigas, dessas de aniversário. Et ça c’est tout. Em inglês esse fetiche se chama ballooning.

A trilha sonora desse post é 99 Luftballons. Aqui a muito engajada Nena nos fala de bexigas que são soltas para protestar contra uma nova corrida armamentista, no começo dos anos 80, entre Estados Unidos e União Soviética. Muita coisa mudou desde então. E não falo apenas da ordem geopolítica ou do corte de cabelo de roqueiros. Hoje, soltar um monte de bexigas para protestar ou celebrar é um no-no ambiental: Bexigas são muito lindas no ar – mas causam danos terríveis quando retornam à terra ou à água. E como bem sabem os atores do 89, tudo que sobe, desce.

quarta-feira, 26 de março de 2008

CADA UM PENSA COMO PODE

Reflexões sobre eu e o álcool, 4

Querido Alberto. Comecei respondendo ao seu instigante comentário ao meu post ASSIM SOU SE LHE PAREÇO, que “beber tem que ser sempre uma opção; coagir o outro a qualquer ato é imoral”, e quando me dou conta – escrevi todo um novo post.

Para beber, não me sinto objeto de coação – mas sim de uma expectativa fuerte. Para algumas pessoas, como disse o Alê Bom à Bessa (ouch!), não beber é uma ofensa. Mas a expectativa fuerte do outro é problema dele, não? O meu problema é não me deixar levar por ela. Mas isso às vezes, humph, é um trabalho em tempo integral.

Ah, algumas pessoas tendem a levar as coisas para o lado pessoal, como se diz. Por exemplo, algumas levam o fato de eu ser vegetariana para o lado pessoal. Mais: Consideram-no uma ofensa. E, diante dessa ofensa, tratam logo de retribuí-la. Já ouvi que compadecer da dor dos animais é uma frivolidade – que é mais típico de quem não se compadece da dor dos seres humanos. E que compadecer da dor de mamíferos, peixes e aves é uma hipocrisia. E a dor dos vegetais que eu como? Ou a dor dos insetos que são mortos no cultivo daquilo que eu como? Ou a dor dos germes que são mortos na lavagem da louça em que eu como? E tudo isso porque eu digo, não, obrigada, não quero ir a uma churrascaria com você. Falo sério.

Mas o que será isso? A expressão trágica, como diria Marshall B. Rosenberg, criador da comunicação não-violenta, de uma necessidade não atendida? E que necessidade será essa? Que eu o acompanhe a uma churrascaria? Que eu sempre lhe diga sim? Que eu retribua a lealdade que ele me dedica? Que eu retribua as concessões que ele faz por mim? E porque não falar isso assim, como é – ao invés de usar o meu vegetarianismo para me chamar de frívola ou hipócrita?

Eu e um baiano, que mora em São Paulo, ficamos meses sem nos falar. Daí uma hora ele me liga e diz: Estou passando agora na sua casa, estou morrendo de saudades. Então eu explico que já tenho outros planos, e proponho que nos encontremos num outro dia. Não sei bem como, ele sempre acha uma forma de me dizer que para mim tudo tem que ser hipermontado e hiperformal, que uma amiga de verdade sempre arruma tempo para um amigo, que eu corto toda uma energia maravilhoo-sa de improvisação, que eu sou assim – uma paulista! Miau.

Talvez eu, o churrasco-lover e o baiano estejamos, cada um a seu modo, tentando lidar com a dor de receber um não. Porque essas críticas tão duras também me chegam como um não: Um não ao meu estilo de vida, um não às minhas escolhas. Há alguns anos era-me muito doloroso ouvir críticas tão duras. Tão doloroso que eu logo transformava o meu não num sim – para não ter que ouvir nem mais uma daquelas palavras. Hoje ainda é doloroso ouvir algo assim – mas não o suficiente para eu abrir mão do meu não. Então eu respondo que eu preferiria que eles me achassem uma fofa. Mas que, parafraseando Luigi Pirandello, eu sou aquilo que lhes pareço. Ou que, repetindo Mário Quintana, cada um pensa como pode. Grr.

Em empatia a todas as pessoas que conhecem a dor de receber um não, deixo-os com a abertura de Magnolia, do muito talentoso (e muito sexy) P.T. Anderson, ao som de One, da muito talentosa (e muito melancólica) Aimee Mann. Nessa abertura, todos os personagens são-nos introduzidos assim, de uma vez só. Não sabemos o que os une – mas a canção sugere experiências de solidão e de não: No is the saddest experience you'll ever know. Yes, it's the saddest experience you'll ever know. Because one is the loneliest number that'll you'll ever do. Aqui você encontra uma versão de One sem a interferência do som do filme.

terça-feira, 25 de março de 2008

APRENDENDO COM AS FOTOS NSFW DE KRISTIN DAVIS

Sinto muito por todas as pessoas que tiveram sua vida sexual invadida por paparazzi ou pela publicação, sabe-se lá como, de fotos ou vídeos feitos para uso pessoal. Daniela Cicarelli, Tato Malzoni, Paris Hilton, seu ex-namorado (ele foi vítima ou réu nessa estória?), Vanessa Hudgens, Pamela Anderson, Tommy Lee. Sinto muito – mas talvez não o suficiente para abster-me de dar uma olhadinha nessas imagens.

Pois é, Fabiano. Ter ido até Beverly Hills e reparado nos leitores ávidos por fofocas ajudou-me a enxergar o que sempre esteve aqui: A leitora ávida por fofocas em mim. Melhor: A voyeur ávida por fofocas em mim. Não sou o tipo de voyeur que vai atrás da publicação ou do vídeo com essas imagens, que vai até um sex shop ou mesmo até uma banca de jornal. Não. Minha curiosidade não é suficientemente grande para disparar esse movimento todo. Mas no conforto da minha casa, é-me difícil deixar de googlar três ou quatro palavras e – voilà! – ter a minha fração de entretenimento às custas da privacidade alheia.

Mas esse mea-culpa agora por que?

Porque ontem não deixei de googlar Kristin Davis nude e – voilà! – ter a minha fração de entretenimento às custas da privacidade de Ms. Davis. Não da princesa episcopal Charlotte York de Sex and the City, mas da atriz scandal-free, ela mesma: Fotos NSFW tiradas por um namorado em 1992 espalharam-se na internet durante o último fim de semana.

Há um segundo aprendizado aqui, e esse eu vou transcrever do Page Six: “YOUNG women should be very, very careful about not letting nude photographs of themselves leave their hands”. Women and men of all ages, eu diria.

E há, talvez, um terceiro aprendizado aqui – um que ouvi pela primeira vez em Mad About You, mas que parece pertencer a um filme de Woody Allen: Na vida real, ninguém é lindo fazendo sexo. Refiro-me à perspectiva de quem só vê, claro. Por seis temporadas, vimos cenas de sexo das protagonistas de Sex and the City – hey, it’s Sex and the City. E ainda que o sexo reservado à personagem de Ms. Davis fosse mais engraçado e tolo do que, er, sensual (o ménage à trois onde ela se viu excluída, o vício pelo Rabbit, o chef pâtissier que é, er, a gay straight man, o marido com problemas de impotência e ejaculação precoce e preferência por thrill sex), Ms. Davis always looked jolly good on screen. Mas não na vida real. Eu até diria que essas fotos dão um novo significado ao acrônimo NSFW: Not Safe For Ms. Davis' Work as an actress. (Ouch! Pois é, Fabiano: Eis o Perez Hilton em mim.) E essa é uma mulher que em 2006, aos 41 anos, foi eleita a mais bonita do mundo pela revista feminina britânica Eve. (Mm, eu e Lord Herbert teríamos votado em Aishwarya Rai.) E essa é uma mulher que nunca saiu da Top 99 Women do portal masculino AskMen.

E há, parece-me, a confirmação de um quarto aprendizado aqui. Um aprendizado que esta blogueira soube desde sempre – ou ao menos desde que assistiu ao lindo La Nuit Américaine, de François Truffaut: O cinema pode transformar qualquer realidade. E não falo de grandes efeitos especiais. Busquei a cena da noite americana ela mesma, da técnica de iluminação e filtragem usada para fazer com que uma imagem filmada durante o dia fique, na tela, com cara de noturna. Não achei. Mas essas imagens aqui, ao som de Grand Choral de Georges Delerue, onde o personagem de M Truffaut aparece ajeitando com precisão o rosto e as mãos da personagem de Jacqueline Bisset, essas imagens ilustram lindamente o que falo. Há um bocado disso, estou certa, no sexo na sétima arte.

segunda-feira, 24 de março de 2008

EU BEBO O QUE?

Reflexões sobre eu e o álcool, 3

Contei-lhes há pouco que, na minha vida adulta, aprendi a beber socialmente – ou a aceitar e a segurar um copo de bebida alcoólica. Tenho várias razões para tanto. Algumas derivam da minha persona estratégica (aquilo a que eu resisto, diria Carl G. Jung, persiste), outras derivam da minha persona gregária, ávida por aceitação, pertencimento e confiança (people don’t trust a person, diriam os escoceses, who does not drink).

Mas eu bebo o que?

Tenho opiniões sobre muitas coisas, mas sobre o álcool que eu vou beber não é uma delas. Na sua casa aceito logo o que você me oferece. Num restaurante ou num bar, aceito logo o que você me recomenda. Mas se você me recomenda um chope, aí peço um prosecco ou um cosmopolitan. (Chope, cerveja, refrigerante ou água com gás não rolam. Ah, tenho alguma persona que sabe impor limites – até mesmo à minha persona gregária.) E sim, leitores antenadíssimos, também peço caipirinha de cachaça – e rosé, esse eu pedirei quando encontrar o Sofia na carta de vinhos. Não porque entendo de vinho (não entendo), mas porque apóio aqueles vinhos que subsidiam os filmes arriscados e maravilhosos dos Coppola.

Quando sou eu a receber, continuo confiando nas recomendações do Wine Spectator e do muito atencioso e paciente Marcelo Lopes, do Santa Luzia. E confiando nos meus, er, outros sentidos. E hoje os meus olhos e os meus ouvidos só querem saber da Freixenet – o que são esses comerciais de animação?

O primeiro deles holografa os borrões do maravilhoso vídeo de Crazy, de Gnarls Barkley. Em Crazy, borrões de Rorschach dançam em papel mata-borrão branco. Em Freixenet, borrões dançam num copo de leite.

Os outros dois rotoscopiam cenas de um universo, er, tres Hôtel Costes, ao som de Yachts, de Coco Steel & Lovebomb. Nessa técnica, filma-se uma imagem e, depois, desenha-se cada um dos seus quadros. Bom, pelo menos era assim em Take on Me, do a-ha, vídeo que mesmerizou esta blogueira em 1985. Esses dois comerciais foram dirigidos por Zoran Bihac e animados por Sasa Zivkovic, dupla que também colaborou nesse (olha isso!) vídeo de hip hop alemão.








quinta-feira, 20 de março de 2008

ASSIM SOU SE LHE PAREÇO

Reflexões sobre eu e o álcool, 2

Yo, I'll tell you what I want, what I really, really want: Água. Mas não vou insistir nisso porque, como diria Carl G. Jung, aquilo a que eu resisto, persiste – e como persiste!

Às vezes você aceita que eu vou beber a minha água, e apenas a minha água. Mas, logo me dou conta, é porque você presume que estou grávida, que sou evangélica ou muçulmana, the designated driver (a amiga da vez?), uma alcoólatra em recuperação – ou que tomei uma bala.

Por que outro motivo uma pessoa não beberia álcool?

Um lado meu até quer explicar, não para me justificar, mas porque quero que você conheça a minha essência. Mas um outro lado, talvez mais pragmático, apenas entende que o nosso é um mundo de aparências. E que, parafraseando Luigi Pirandello, assim sou se lhe pareço.

A trilha sonora desse post é o delicioso samba-rock Eu Bebo Sim, interpretado pela divina Elizeth Cardoso. Se você pensa que esse tipo de propaganda do álcool ficou nos anos 70, pense em Rehab de Amy Winehouse, Lived in Bars de Cat Power, ou em Cachaça, de Carlinhos Brown (aqui na interpretação da Timbalada).

DEPOIS DE 3 TAÇAS

Reflexões sobre eu e o álcool, 1

Não me sirva o seu Romanée-Conti. Não vale a pena: Tenho os sentidos apuradíssimos para muitas coisas, mas álcool não é uma delas. E não me faltam só os sentidos apurados para degustar o melhor do álcool. Talvez também me falte um fígado adequado para digerir qualquer álcool. Que delícia ser como naquela canção do Kid Abelha, depois de 3 taças, qualquer um me encanta, tudo sai de graça, qualquer um se torna minha grande paixão. Mas para mim, depois de 3 taças, é sempre aquela náusea.

Foi aos 17 anos, quando entrei na faculdade, que me senti pela primeira vez cercada por pessoas que bebiam. E mais: Por pessoas que não eram indiferentes ao meu consumo de álcool: Elas esperavam que eu bebesse, elas me incentivavam a beber. E eu? Humph. Bom, eu queria pertencer justamente a essa, er, turma do funil. E olha que havia todas as turmas por ali – incluindo os Opus Dei, para quem beber era uma violação do corpo, contraproducente à sublimação da alma, e os PCdoB, para quem beber era uma alienação da vida, contrário aos ideais da revolução.

Talvez por ser mulher, talvez por ter-me cercado de pessoas intelectualizadas, nunca fui objeto de um trote, de um ritual onde a minha aceitação numa comunidade fosse explicitamente condicionada ao consumo de quantias insanas de álcool. Não. Vi-me sujeita a uma versão bem sutil desse processo de iniciação. Estudei na Faculdade de Direito da USP e na University of Ottawa, no Canadá – e a construção de camaradagens e vínculos nesses espaços passava, e muito, pelos arriba, abajo, al centro y para dentro. E eu, ali, ora insistindo na minha água, ora trapaceando com o mesmo copo de destilado, brincando com os gelinhos.

O álcool aos 17, 18 anos é um rito de passagem da infância à vida adulta. Mas ali e então, eu não via isso com tanta simplicidade. Eu me sentia desafiada, incitada a mostrar audácia, coragem, ousadia de beber – e não gostava nada daquela sensação. A época em que eu estudei no Canadá era a do Just Say No (to peer pressure), uma campanha anti-drogas dirigida a crianças e adolescentes. Yeah, like it is that easy: Ainda me era difícil como uma mulher casada, aos 25 anos.

Mas o que me surpreende é que esse sentir-me cercada por pessoas que esperam que eu beba, essa dificuldade to just say no, eu não os deixei no início da minha vida adulta: Ainda hoje os trago. Mas agora eu me sinto não desafiada, mas convidada. E não convidada a beber em si – mas convidada à entrega, à vulnerabilidade, à perda de controle, a deixar-me levar pela embriaguez. E um convite à minha vulnerabilidade é-me bem mais sedutor do que um desafio à minha coragem. Mas ainda aquela náusea depois de 3 taças, e ainda os sentidos pouco apurados para o melhor do álcool.

É claro que uso de álcool é diferente, e muito, de abuso de álcool. Mas não consigo pensar em nenhum outro produto cujo uso seja tão amplamente incentivado. Talvez sua avó incentive que você coma um pedaço de bolo; seu personal trainer, mais proteína; seu clínico geral, que você beba mais água; a publicidade, uma Coca-Cola. Mas reconheça: Com maior freqüência há alguém, ou algo, incentivando que você beba álcool, ou mais álcool.

E por que é assim? Talvez porque vejamos o álcool como algo divino desde, bem, desde sempre. Pense em Baco e nos rituais de embriaguez nas Dionísias gregas ou nos Bacanais romanos. Pense na festa judaica Purim, onde se deve beber até não se saber diferenciar o amaldiçoado Haman do abençoado Mordechai. E pense, com tantos poderes, e no meio de um povo com tantas necessidades, no milagre que Jesus de Nazaré escolheu como o seu primeiro: Transformar água em vinho numa festa de casamento em Canaã da Galiléia. Falo sério.

sábado, 15 de março de 2008

EU TE AMO... EU TAMBÉM

Hoje eu começo pelo final, depois eu conto o começo. Melhor: Hoje eu começo pelos agradecimentos, depois eu conto a estória. É que amanhã de manhãzinha eu tenho um compromisso importante com a minha roda de leitura. Mas eu não conseguiria dormir sem compartilhar ao menos um pedacinho com vocês. Quem leu o meu post EU TE AMO... EU TAMPOUCO sabe porque.

Obrigada, Priscila V., por apresentar-me à palavra intento, no seu significado esotérico. Obrigada, Arnaldo, por ter escrito e postado dois artigos tão claros sobre esse conceito tão complexo. (Não é que tudo dar certo dá um pouco de medo?)

Obrigada, Silvinha, por adiar nosso jantar para domingo. Obrigada Aninha, Marília e Clio, por aceitar que eu saísse mais cedo do nosso encontro.

Obrigada, Edgard Scandurra, por nos colocar na conexão Le Petit Trou.

Obrigada, Ricardo E. Hoje foi você o catalisador de mais uma das coisas incríveis, de mais um dos pequenos milagres que têm acontecido na minha vida nas últimas duas semanas! Je t’aime!

Merci, Jane Birkin, por sua performance intensa e entusiástica. Merci, merci, Mme Birkin, por inspirar-me com a sua gratidão a todos e a tudo ao seu redor. Merci, merci, merci, Mme Birkin, por ter respondido, quando eu lhe disse je t’aime... moi aussi!

terça-feira, 11 de março de 2008

EU TE AMO... EU TAMPOUCO

Numa mensagem telefônica a minha mãe me informa, toda animada, que Jane Birkin vai se apresentar no Sesc Pinheiros nesta quinta-feira.

Sim, meninas: Birkin é a bolsa Hermès objeto-de-desejo de toda mulher chic. Mas é, também, a atriz cult que conhecemos no genial Blow Up de Michelangelo Antonioni (baseado em conto do maravilhoso Julio Cortázar), e a cantora cult que conhecemos em Je t'aime... Moi non plus, em dueto com seu namorado, o poeta e tudo-o-mais Serge Gainsbourg.

A canção surpreendeu alguns com a letra nonsense de M. Gainsbourg (a começar do título Eu te amo... Eu tampouco, inspirado numa frase de Salvador Dali), confundiu outros com a, er, troca de mulheres (Mme Birkin interpretava uma canção que M. Gainsbourg compusera para Brigitte Bardot), escandalizou muitos outros com a interpretação, tão sexy, d'amour physique de Mme Birkin – e deliciou esta blogueira, que não fazia a menor idéia de que havia ali alguma novidade ou motivo para alvoroço.

Mas nesta quinta-feira o encontro com esse ícone da minha infância, adolescência e tudo o mais não acontece. É que escolhi que o meu intento é continuar a explorar, descobrir, compartilhar e crescer com o meu grupo de desenvolvimento pessoal no Ish – e as nossas reuniões acontecem nas noites de quinta-feira. (Sim, Cecília Meireles: É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares!)

Depois lhes conto tudo sobre intento. Mas já adianto que ouvi essa palavra (no seu significado esotérico) pela primeira vez há apenas dez dias, através da übber-conectada Priscila V. Desde então coisas incríveis estão a acontecer na minha vida. Tão incríveis que eu não me surpreenderei se nos próximos dias eu for presenteada com um encontro com Mme Birkin – ou mesmo, como Lucy Liu naquele episódio de Sex and the City, com uma bolsa Birkin.

segunda-feira, 10 de março de 2008

APRENDENDO COM BRITNEY SPEARS

Eu sei, Fabiano: Eu me conecto melhor com as pessoas, incluindo os meus fiéis leitores, quando falo não das idiossincrasias da sociedade de massa – mas das minhas próprias. Ou, para falar como uma cristã, quando reparo não no cisco que está no olho do outro, mas na trave de madeira que está no meu próprio olho.

Mas quem é o outro? Para falar como um xamanista, o outro não é o outro. O outro só existe como reflexo, como projeção de mim mesma. O outro só está no meu universo para me ensinar algo sobre mim mesma.

Então às vezes eu preciso ir até Beverly Hills e reparar na Britney Spears, nos paparazzi, nos leitores ávidos por fofocas, no Perez Hilton – para então enxergar o que sempre esteve aqui: A Britney Spears em mim, a paparazza em mim, a leitora ávida por fofocas em mim, e mesmo o Perez Hilton em mim.

A que posso comparar esse processo? Talvez a um Alice do Outro Lado do Espelho ao contrário: Primeiro eu exploro um universo que me parece tão estranho. Mas chega uma hora em que ele se torna tão familiar – é nessa hora que eu o enxergo em mim.

quarta-feira, 5 de março de 2008

DANDO UM DESCONTO PARA BRITNEY SPEARS

Quando um general romano retornava vitorioso de uma guerra ou de uma conquista, ele desfilava numa carruagem pelas ruas de Roma, por onde a população o ovacionava. Atrás do general, na carruagem, havia um escravo que segurava uma coroa de ouro sobre a cabeça do dux, e repetia no seu ouvido: “Memento mori!” Lembre que é mortal! Os romanos sabiam que o poder, a glória e o sucesso eram ensandencentes, emburrecedores, que privariam o general do discernimento que se espera da pessoa comum.

Quando poder, glória e sucesso são associados a distúrbio bipolar e a uma pletora de substancias químicas – o que você tem? Sim, Britney Spears. Não é a toa que ela esteja fazendo tanta – tanta o que?

Pelo que entendo, Ms. Spears não faz mal a ninguém – só a si mesma. Com duas exceções: Ela dirigiu com o seu filho bebê no colo, e quebrou o carro de um paparazzo com um guarda-chuva. Sim, ela poderia estar um pouco melhor vestida – mas eu também poderia estar um pouco melhor vestida. Sim, ela poderia estar um pouco mais em forma – mas eu também. Sim, ela poderia sempre trajar uma calcinha, ou pelo menos sentar de perna fechada – nisso esta blogueira não se reconhece. Sim, ela poderia – vocês já entenderam o meu argumento.

Mas não faz sentido eu me comparar a Ms. Spears, não é? Os critérios de aparência pelos quais avaliamos Ms. Spears são muito, mas muito mais rígidos do que aqueles que se aplicam a mim. Ou mesmo a outras cantoras fora do universo pop. O universo pop não é propriamente da música: Talvez seja mais do entretenimento, do vaudeville, do burlesque. Como deixa claro o show-concurso The Search for the Next Doll, de uma cantora pop se espera um bom cantar – mas impecabilidade no dançar, no senso de estilo, na aparência. É apenas normal que esperemos que Ms. Spears apresente essa impecabilidade nos palcos.

Mas e fora deles? Uma dose de desleixo, maluquice ou, er, atitude ajuda, é claro, a compor a persona. Mas quando Ms. Spears ostenta seus quilinhos a mais, seus cabelos a menos numa Starbucks, numa Rite-Aid, num Ralph’s – talvez aí nos seria útil um escravo a repetir nos nossos ouvidos: “Lembre que ela é mortal!”.

domingo, 2 de março de 2008

ENSANDECENDO BRITNEY SPEARS

O trabalho do paparazzo brasileiro Filipe Teixeira consiste em, das quatro da tarde às quatro da manhã, montar guarda na porta da casa de Britney Spears em Beverly Hills (ou do hotel onde ela passa tanto do seu tempo) e seguí-la aonde quer que seja. Há cerca de trinta paparazzi, Mr. Teixeira conta-nos em entrevista à revista Quem, que se dedicam integralmente ao cotidiano da ex-princesa do pop. Segundo matéria de Vanessa Grigoriadis na Rolling Stone de fevereiro, a cada dia pelo menos cem paparazzi, repórteres e editores de fofoca seguem Ms. Spears, buscando registrar quaisquer de seus gestos em imagem ou texto.

Não conheço, entre eu e as pessoas do meu convívio, uma única que não ensandeceria se perseguida o tempo todo por um bando de gente. Aliás, já presenciei algumas perderem o eixo porque se viram assediadas por alguns minutos por uns poucos pernilongos. E esse, er, collective stalking é apenas um dos estressores da menina que começou a freqüentar concursos de beleza aos três anos de idade, da mulher cuja dor e tragédia hoje fazem a delícia da sociedade do espetáculo.

Quanto mais constrangedora ou bizarra a imagem que o paparazzo registra, sabemos, maior o seu valor no mercado de tablóides. Mas parece que mais uma foto de Ms. Spears sem calcinha, ou com a calcinha manchada de sangue menstrual seria, er, old news: A foto-troféu do momento, revela-nos Ms. Grigoriadis, é a do seu corpo embalado num saco, a caminho do médico-legista.

De que estamos diante? Tenho aqui as minhas reflexões, as quais compartilharei com vocês em breve. Por ora sugiro que assistam ao vídeo da canção Everytime, que Ms. Spears gravou em 2003, no auge do seu reinado pop. Ali e então, imagens onde Ms. Spears aparece por vezes letárgica, outras colérica, por fim angustiada; agredindo paparazzi, fãs, seguranças, seu namorado; suicidando-se numa banheira para, explicou-nos depois a cantora, reencarnar-se num bebê – essas imagens eram pura ficção.

sábado, 1 de março de 2008

KRYPTONITE! OH...GETTING WEAK

Em comentário generoso e instigante ao meu post I SEE DEAD PEOPLE, o BHY me pergunta se eu consigo ter esse auto-controle o tempo todo.

Bom, não gosto da idéia de controle. Controle é alguém me esvaziar de poder, escolha e liberdade. Auto-controle é eu me esvaziar de poder, escolha e liberdade. Talvez essa seja uma questão semântica, não? Mas prefiro dizer que busco estar centrada e consciente.

Se eu consigo estar centrada e consciente o tempo todo? Não.

Tenho as minhas, er, kriptonitas. E a coisa já ficou feia, viu? Mas em geral essas kriptonitas não me deixam, ali e então, em modo fight or flight. Ali e então eu encontro um modo de lidar com a situação, sem brigar ou fugir. Mas e depois? Depois eu tendo a evitar situações semelhantes, onde eu possa reencontrar aquela kriptonita. Talvez esteja aí a origem dos meus bloqueios, sobre os quais tenho falado bastante por aqui. Talvez bloquear seja evitar inconscientemente situações onde eu possa reencontrar aquela kriptonita.

Atenção Lex Luthor, id e super-id: Começo a entender como a kriptonita se opera em mim! More power to me!