segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 7

Postado originariamente em 8/2/2007, TEMPO DAS ÁGUAS

Não dá para não gostar de chuva quando se está no pantanal ou no cerrado. Por lá chamam a estação chuvosa de tempo das águas. Isso é poesia, é o melhor da prosa, é Guimarães Rosa.

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 6

Primeira versão postada em 7/2/2007, AI, AI, AI, AI

Há cerca de quinze anos reconciliei-me com a chuva. Foi quando comecei a usar lentes de contato e a ter maior sensibilidade para a poluição da cidade. Até então eu não gostava de chuva. Melhor: Eu já gostava de (amava!) barulho de chuva – e alguém não ama? E já amava ver, da janela, a chuva bater no asfalto – parecia-me bailarinas movendo-se erraticamente. Mas não gostava de, estando na rua, lidar com a chuva. Cresci na cidade, ao som de “por favor chuva ruim, não molhe mais o meu amor assim”, doutrinada a identificar tempo ruim com tempo chuvoso.

Mas há reconciliação e reconciliação. Há cerca de cinco anos passei a amar a chuva, a amar tomar banho de chuva.

No Guardiões do Cerrado tomei uns banhos de chuva como os banhos de chuva devem ser, no meio do mato, desses que lavam o corpo e a alma – uma mikva.

sábado, 26 de janeiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 5

Em outubro (ou foi novembro?) de 2007, a minha amiga Kátia perdeu a mãe e o pai em uma semana. Num sábado de muita chuva, de manhã foi o enterro do seu pai; à tarde foi a missa de sétimo dia da sua mãe.

Somos amigas desde que tenho 13 ou 14 anos. Ela era (é) a filha única mais generosa, altruísta que conheci: Tudo o que tinha, tratava de compartilhar conosco. E ela tinha muito daquilo que me era caro no início da adolescência. Amigos surfistas ou velejadores, camisetas Hang Ten, fluência no alemão, pais pacientes e dedicados para nos levar e buscar nas festas. Festas do Porto Seguro, do Humboldt, da Waldorf, no Club Transatlântico, no YCSA – todos os lugares onde se reunia a juventude teuto-brasileira de São Paulo.

Quando entendi que o papel dos pais ia além de nos comprar camisetas Hang Ten e nos levar e buscar nas festas, e que a vida ia muito além disso, também entendi que era dos seus pais que a Kátia havia herdado sua generosidade e seu altruísmo. Mais: Seu bom humor, sua lealdade, sua ética. E seus atributos físicos, que ela sempre foi linda.

Pronto. Era essa a mensagem que eu diria para a Kátia após a missa de sétimo dia da sua mãe. Eu diria que os seus pais estariam sempre vivos nela, e desejaria que ela encontrasse, em si, o desapego para lidar com essa perda.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Mal começa a missa e me dou conta que não estou com o meu guarda-chuva Burberry. Sim, eu saí de casa com ele. Chovia torrencialmente. E então parei na Select da Lorena com a Peixoto Gomide para tirar dinheiro e tomar um cafezinho. E então atravessei a rua até o ponto de táxi. Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas. Tomei um táxi até a igreja. Eu o esqueci, portanto, na Select ou no táxi – e quem, num dia tão chuvoso, resistiria à tentação de levar guarda-chuva tão conciso, chic, lindo?

É nosso dever e nossa salvação. Ah, não se trata apenas de um objeto. Tampouco de um fashion statement. E não preciso entrar no mérito do valor afetivo desse objeto: Ele é, em si, a síntese elegante e portátil da arte milenar de proteger-se do sol e da chuva. Ele está no meio de nós. Sim. Esse objeto não apenas abracadabra apareceu. Ele é o aperfeiçoamento do – bem, sobre isso falo outra hora.

O amor de Cristo nos uniu. Talvez ele ainda esteja lá, na Select ou no táxi. Se eu o deixei na Select, talvez a barista o tenha guardado para mim. Ou talvez ele ainda esteja ali, pendurado na cadeira onde me sentei para tomar o meu cafezinho. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.

E agora, enquanto aguardo a minha vez de falar com a Kátia, enquanto recapitulo a minha mensagem de desapego para a minha amiga que perdeu a mãe e o pai em uma semana, dou-me conta de como me é difícil desapegar-me até mesmo de um guarda-chuva.

Esses são os filhos da Kátia, Juliano e Victoria. Eles também herdaram os atributos físicos dos avós. Ah, e são surfistas.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 4

É noite de festa. E não de qualquer festa: É aniversário da Xan no CB. Chove a cântaros. Ela me liga. “Pode descer. Estamos no Audi.” A palavra Audi chega-me como uma ordem. Tiro de imediato a camiseta Jimi Hendrix. Coloco uma blusinha preta posh.

Quem nos leva ao CB é um grande amigo da Xan. Ela está feliz por ter-nos finalmente apresentado. Temos muito em comum, ela diz. Somos arianos, moramos nos Estados Unidos, temos alma de ouvir e coração de escutar. Somos almas gêmeas – sim, acho que ela disse isso. Ao longo da noite descubro que temos ainda mais em comum: Gostamos de rock, de design, de Beck.

No CB não há manobrista. Estacionamos o carro a um ou dois quarteirões. Não há guarda-chuva. Corremos até lá. A Xan com mais pressa, para não se molhar. Eu com mais cautela, para não desabar dos meus 9 cm de salto. Chegamos ao CB molhados, quase-ofegantes, rindo. E agora finalmente vejo a minha alma gêmea de pé, na minha frente.

Ele veste uma camiseta Jimi Hendrix.


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sábado, 19 de janeiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 3

“Caramba!”, exclamo enquanto procuro, desajeitada, fechar o meu novo guarda-chuva de cinco reais, “é um pouco como estar em Cem Anos de Solidão”. Ela me olha com hesitação. “Essa chuva que não pára”, tento outra vez, “não faz você se sentir na Los Angeles de Blade Runner?”. “Onde?”, ela pergunta, confusa.

Meu impulso é responder com Águas de Março. Sim. Para receber mais um olhar de “hã”. Para deixar claro que não compartilhamos referência alguma. Para lembrar-nos que toda piada precisa acompanhar-se de uma explicação; toda informação, de uma nota de rodapé. Para ilustrar que nossas memórias afetivas são distintas. Que não há nada que nos possa conectar.

Paro. Respiro. E então respondo – melhor, cantarolo. “Now that it's raining more than ever, know that we'll still have each other. You can stand under my umbrella. You can stand under my umbrella. Ella, ella, ê, ê, ê.”

Ela sorri. Agora sim. Fecho o guarda-chuva. Sorrio de volta.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 2

Bem, há um homem com um guarda-chuva (no pun intended!) que me fala mais ao coração do que Mary Poppins. Todo mundo conhece a cena do personagem de Gene Kelly, tão apaixonado pelo de Debbie Reynolds que, quando se pega no meio da chuva na cidade...sai cantando e dançando!

“What a glorious feelin'! I'm happy again, I'm laughing at clouds!” ele celebra. E, sem entender bem o poder da paixão, pergunta-se “why does September seem sunny as spring?”.

Mas no final da canção ele sabe a resposta: Tudo na vida parece mais fácil (each new task is a trifle to do)...Because I am living a life full of you!

É: Ao seu lado as coisas parecem tão simples!

ELLA, ELLA, Ê, Ê, Ê 1

A menos que você tenha passado 2007 em Marte, você também deve ter se pego cantarolando “under my umbrella, ella, ella, ê, ê, ê...”. Ah, é delicioso, até mesmo engraçado – pelo menos para quem fala português – alternar ella, ê... e então, mais rápido, “under my umbrella”.

Agora, se você é um pouquinho parecido comigo, o seu interesse por essa canção parou por aí. E com todo o respeito ao talento de Rihanna, a sua mulher com um guarda-chuva predileta ainda é Mary Poppins. Ou, se você é mais parecido com o meu noivo amigo Ricardo E., Catherine Deneuve em Les Parapluies de Cherbourg.

domingo, 13 de janeiro de 2008

MUDANDO O MEU CORAÇÃO

No YouTube são 6.505.237 exibições. E eu fico imaginando quantas dessas, ao longo de 2007, foram para mim. Foram tantas!

Por que será? Talvez porque 1234 de Feist seja uma canção e um vídeo (sim, Caetano, seria impossível dissociar a canção do seu vídeo) que falem direto ao meu coração, direto à minha criança interior, direto aonde? Direto a um locus que é depositário de toda a minha inocência, de tudo que me parece certo, natural, fácil, simples.

Feist não tem o misticismo de Devendra, a intensidade de Cat Power e Amy Winehouse, a sofisticação eletrônica de Zero 7 ou o, er, gênio de Bebo & Cigala – as minhas outras descobertas musicais de 2007. Feist é uma artista da simplicidade.

Mas que trabalho por trás dessa simplicidade!

Que trabalho deixar seus fiéis fãs de indie music confusos ao gravar uma balada ingênua e romântica que parece saída – de onde? De uma caixa de crayon? Do Xanadu de Olívia Newton-John? Que trabalho deixar a Birkenstock de lado e vestir-se como uma party Barbie dos anos 80! Que trabalho dançar tão desajeitada mas com tanto esmero no meio desses cronópios que se deixam tombar no chão como dominós. E que dançam de forma natural, espontânea, imprecisa – sugerindo antes improviso do que coreografia.

E (apenas imagino; Herbert e Rodrigo would know for sure) que trabalho ir na contramão das tomadas rápidas e muitíssimos cortes – e fazer um vídeo que nos deixa a impressão de ter sido filmado numa única, maravilhosa e viajante tomada!

Será que sou só eu? Você também não quer mergulhar nesse vídeo?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

VIVA APLAUSO 1

É uma combinação de três crenças, imagino.

A primeira é aquela que Nelson Rodrigues chama de complexo de vira-lata, e que Groucho Marx enuncia como “não quero pertencer a um clube que me aceite como sócio”. Não sei como isso cresceu em mim. Só sei que vi, aos 15 ou 16 anos, Woody Allen contar a piada em Annie Hall. Todo mundo riu. Eles porque, imagino, reconheceram ali um amigo, uma namorada, um tio, uma mãe – alguém eternamente descontente com o que alcança. Eu porque, bem – só então me dava conta de que nem todo mundo era assim.

A segunda é a ética (protestante e capitalista, penso) do “no pain, no gain”, de que tudo tem o seu custo, de que o benefício é diretamente proporcional ao esforço. Também não sei bem de onde tirei isso. Lembro-me de ter lido na Time ou na Pop, ainda criança, que para Mick Jagger sua música era 1% inspiração e 99% transpiração. É isso mesmo, eu saboreei comigo mesma. Por algum tempo repeti essa expressão (que só há pouco aprendi ser de Thomas Edison) para celebrar a supremacia do trabalho árduo.

A terceira é a idéia dos gênios além do seu tempo, da arte que não se curva ao mercado, da independência intelectual. Aos 19 anos vi a poesia Viva Vaia, de Augusto de Campos, na casa do seu filho Cid. Uma pequena, er, instalação sobre a mesa da sala. Naqueles triângulos vermelhos num fundo branco estava concretizado o que eu sabia desde sempre. Quando, mais tarde, deparei-me com a máxima "aquilo que criticam, cultive-o, porque é você", pensei: Da próxima vez, Monsieur Cocteau, conte-me algo mais original.

Desde tão cedo em mim, essa insaciedade, esse perfeccionismo, essa baixa auto-estima, essa aspiração, esse desprezo pelo fácil, essa indiferença pelo elogio – tudo isso até que me serviu bem. Devo-lhes, acredito, o mestrado na USP, as bolsas de estudo no Japão e no Canadá, o estágio no FMI, o emprego em Wall Street no patriciano JP Morgan.

Mas que peso, que sofrimento, que trabalho! Que tormento – e aqui parafraseio Manuel Bandeira – esse anseio infinito e vão de possuir o que não possuo! Como parte do feng shui que lhes contei em Now is the Winter of Our Discontent Made Glorious Summer, decidi que essa era uma roupa que não me servia mais. Também eu não quero, Manuel Bandeira, o que a terra só dá com trabalho.

“Mas você estava carregando isso até hoje?”

Assim reage Cláudia A., minha amicíssima desde os 12 anos, quando eu lhe conto, às vésperas do reveillon, sobre a Lux 2008. Ela me explica que até mesmo o pai do neoliberalismo Milton Friedman (autor, nos anos 70, do livro “There is no Such a Thing as a Free Lunch”) já havia reconhecido que há, sim, almoço de graça. “Ah, basta ver o monte de coisa incrível, simples e grátis na internet”, ela argumenta.

E ao ouvir isso assim, tão claro, tão simples e tão evidente. Ao ouvir isso assim, e pelo menos por alguns instantes, foi como se tanto da minha vida eu houvesse vivido, como talvez Shakespeare resumisse, num much ado about nothing.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

OOPS, SHE DID IT AGAIN!

Talvez seja melhor desconsiderar o meu "a propósito" em Go, Go, GO!: Amy Winehouse parece um caso recorrente de rehab. Ah, não vou relatar-lhes aqui o que parece ser a nova delícia dos paparazzi e fofoqueiros de tablóide. Deixemos Ms. Winehouse em paz!

Prefiro compartilhar com vocês a estória exemplar de resgate de autonomia de ação de Cat Power.

GO, GO, GO!

Se você tem bloqueio, dependência, obsessão ou compulsão por alguma coisa, seja lá o que for – por uma substância química, por seu namorado, por novelas, por aparência, por segurança, por sexo, por comida, por fofocas, pelo orkut, por atenção, por amor, por religião, por dinheiro... por Maomé! Arranje um modo de se livrar disso! Resgate a sua autonomia de decidir, a cada momento, o que fazer ali e então!

Às vezes você pode estar in denial sobre o seu bloqueio ou a sua dependência. E às vezes resgatar a sua autonomia de ação vai envolver que você se proteja de si mesmo, que você abra mão temporariamente – e apenas temporariamente – de uma parte maior da sua autonomia. Não foi assim que Odisseu salvou-se das sereias e do seu canto? Amarrando-se no mastro do seu barco e colocando cera nos seus ouvidos? Não é essa a idéia das clínicas de rehab?

Portanto, se a coisa está ficando feia e a sua família e os seus amigos insistem numa clínica de rehab...go, go, go!

Agora, se você vai responder no, no, no, que prefere ficar em casa ouvindo Ray Charles, que não há nada a aprender que não seja com Donny Hathaway, que não tem dez semanas pra desperdiçar...por Santa Teresinha do Menino Jesus: Faça-o com o brilho de Amy Winehouse! Componha uma canção incrível!

A propósito: Em agosto de 2007, já consagrada e premiada como a nova estrela do blue-eyed soul, Ms. Winehouse internou-se numa clínica de rehab. Timing is indeed everything.

VIVE LA LIBERTÉ!

Este é um blog de família. Então – sim! – pareceu-me natural que uma amiga, mãe de dois adolescentes, pedisse que eu censurasse contextualizasse os méritos da desobediência e de se viver numa garrafa, apresentados aqui em dois posts.

Será que eu conseguiria falar sobre desobediência sem entrar em Martin Luther King, Rosa Parks, Gandhi, Mandela – sem exaltar o uso criativo do conflito não-violento? Já tratei disso extensamente na minha dissertação de mestrado – still I can’t get enough. Por Thoreau, vou poupá-los dessa eloqüência! Para a qual, aliás, há fóruns mais adequados.

Viver numa garrafa. Por Baco! Quando eu disse “celebrar a idéia de viver numa garrafa”, eu estava a celebrar o resgate da minha autonomia de ação. Não se trata de me entregar ao álcool ou à vida nos bares – isso seria uma dependência, não? Trata-se de eu me libertar de um bloqueio: Desfrutar do álcool e da vida nos bares sim! – mas sendo senhora do meu prazer em vez de sua escrava.

É claro que a Marise, a Márcia e a Fernanda ajudaram-me a fazer esse desbloqueio. E a fazê-lo com mais graça, leveza e humor. Estar com essas cariocas é bonito, bacana, sacana, dourado, moderno, esperto, direto... é trank!

Vive la liberté! Viva a autonomia de ação!

RUN, JULIE, RUN

Ela chega na minha casa depois de um dia de trabalho e de um vôo de Curitiba. Deixa suas coisas no quarto de visitas. Encosta-se no batente. E logo vem o seu olhar: Vamos? Não, ela não quer tomar banho ou lavar a mão ou beber um copo d’água ou sentar um pouquinho. Julie não pára. Voamos até O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. Mal sentamos e a Julie se encanta com a sacola-casinha da loja da Carina Duek. E lá vem o seu olhar: Vamos? E é assim o dia todo, dia após dia. E vamos desenvolver uma nova tese tributária e vamos decorar um apartamento e vamos ao W cortar o cabelo e vamos comprar uma BMW e vamos fazer mais um mestrado e vamos malhar e vamos levar a Rebequinha ao pediatra e vamos visitar um cliente e vamos jantar no Passarinho e vamos tomar um cafezinho no Santo Grão e vamos comprar uma vaquinha para o Wilson.

“A Julie tem uma energia infinita”, confidencio à minha irmã Marília, “não dou conta”. É como ter uma filha adolescente, imagino.

Então não entendo nada quando a Julie desmaia na noite de Natal e yada yada yada há um tumor de 15 centímetros de diâmetro entre os seus pulmões. E então os exames, as internações, a UTI, a infecção pulmonar, o dreno, a anemia. E a entourage da Julie o tempo todo no hospital, na casa da Julie, com a Rebequinha em Curitiba, com a Rebequinha em Ponta Grossa, na casa dos avós. E nosotros, ao norte do Paraná, atentos aos celulares aos emails aos sms. E repetindo o mantra “obrigada pela saúde da Julie”.

Há pouco recebo a notícia de que a biopsia não identificou traços de malignidade.

Senhores e senhoras... Não é dessa vez que a Julie pára!

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

UM POUCO DE RECATO!

Está certo que somos amigos desde os 14 anos e já moramos juntos. Mas teclar comigo enquanto exibe uma foto peladão? Ah, um pouco de recato!

Aqui está a foto, que eu tratei de adequar para publicação.

Ok, essa é uma obra (Charles, 1985) do grande fotógrafo Robert Mapplethorpe. O teclador exibicionista negou-se a me enviar a tal fotografia. “Nem a pau, Juvenal.” Mas lhes garanto que a tal fotografia não deixa nada a desejar a essa aqui.

PHYSIQUE DU RÔLE

Micro-saia, fardinha, pompons nas mãos e looking the part, Ms. Stefani deve ter engajado-se num programa espartaníssimo de malhação para ganhar o par de pernas que, mais tarde, seria eleito o mais belo da América. Sim, o vídeo tem todo tipo de pós-produção e, er, photoshopping. Mas e os talk shows para promovê-lo? Os gossip shows para denegrí-lo? The camera is merciless.

ANOTHER ONE BITES THE DUST

Courtney Love chama Gwen Stefani de cheerleader. Gwen indigna-se: "F@*k you! You want me to be a cheerleader? Well, I will be one then. And I'll rule the whole world, just you watch me."

O resto da história é Hollaback Girl. Todo mundo conhece. Sobre a canção e o vídeo, digo apenas que eu a-do-ro, que eu acho girlpower para caramba.

O que tem a minha atenção aqui é que duas mulheres nos seus 35, 40 anos falem palavrão façam uso de uma simbologia – mais: uma iconografia – das suas adolescências para expressar aquilo que as aproxima e as separa. Não consigo imaginar Daniela e Ivete recorrendo a símbolos tão longínquos. Não consigo me imaginar, nos meus 44 anos, recorrendo a símbolos até menos longínquos.

Sim, concordo com o Ludo no seu elaborado comentário a You Won’t Go to the Ball! Felizmente, e apesar da força da cultura yankee em Terra Brasilis, não estamos a replicar as dinâmicas de inclusão e exclusão social de seus high schools e colleges. Esse universo dos bailes, cheerleaders e times da escola, dos monitores e monitorados, dos jocks, druggies e nerds, dos prom kings e prom queens, dos bullies e dos, er, bullinados – esse é um universo todo americano, que nos é difícil até mesmo interpretar.

Eu tenho algumas reflexões sobre isso, sobre a minha dificuldade em interpretar esse universo. Fiz pós-graduação na University of Ottawa nos anos 80 – I know, Canada is not the 51st state. E trabalhei em Wall Street (woohoo!) nos anos 90, ao lado de um monte de baby bankers e baby traders saídos das Ivy Leagues.

Por ora vou poupá-los da minha retórica. Digo apenas que é ali, no high school, que ganha raízes a idéia americana da vida como uma competição. Uma competição onde você é um winner ou um loser.

YADA YADA DE BÁRBARA!

E aqui vai o yada yada yada de Bárbara!

Talvez pelo uso repetido, esse cassete de Caetano e Chico Juntos e ao Vivo emperrava o tempo todo. Primeiro eu tratava de fazer o cassete desemperrar fazendo a fita girar com rapidez. Para tanto, fazia uso de uma caneta Bic. Não a Cristal, a outra. Que era laranja e tinha o sextavado mais definido, parecia-me, e que encaixava melhor num dos furos do cassete.

Depois desenvolvi técnica mais apurada: Abria o cassete com uma chave de fenda bem pequenininha, dessas de óculos, e passava um pouquinho de Vick Vaporub em uma das suas faces laterais internas. A princípio funcionou.

Agora me parece inverossímil que uma criança aos nove ou dez anos se engajasse em tamanho engenho e arte. Ou em tamanha gambiarra. Mas era assim.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

BÁRBARA!

Eu tinha nove ou dez anos quando a Célia (acho) gravou o álbum Caetano e Chico Juntos e ao Vivo em cassete para a minha irmã Ana. Eu me apropriei desse cassete e o ouvia ad nauseam no gravador da sala.

Talvez pelo uso repetido, esse cassete emperrava o tempo todo. Yada yada yada chegou a hora em que era mais seguro não ir além da faixa 8, Bárbara.

Estava bem assim – eu ainda ouvia Bárbara. Eu amava essa canção, sabia a sua letra, sabia quando entrariam e sairiam os aplausos. Aplausos? Eu nunca havia ido a um show – não imaginava que aqueles aplausos estavam fora de lugar, que eram fake, que tinham sido incluídos na pós-produção para abafar trechos censurados.

Eu não compreendia a letra dessa canção. E tinha consciência disso. E não me importava. Eu não precisava compreender o seu significado para adorar cantar nún-quetarde, nunqué-demais. Além disso, essa era apenas mais uma das coisas que eu, não compreendendo, guardava no meu coração. Chegaria a hora, eu tinha fé, em que tudo ficaria claro. Agora me parece inverossímil que uma criança aos nove ou dez anos pensasse dessa forma. Mas era assim.

Acontece que hoje, tantos anos depois, ainda não chegou a hora em que tudo fica claro. Um pouco porque eu não vi ou li a peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, para a qual eles compuseram Bárbara. Sequer sei se Bárbara é personagem histórica ou fictícia.

Mas é mais do que isso, não?

Mesmo que eu conclua uma pesquisa histórica ou dramatológica de Bárbara, isso não me ajudaria a me conectar, a empatizar, a me colocar no lugar de uma mulher “cujo destino é caminhar assim, desesperada e nua, sabendo que no fim da noite serei tua”. Isso é além do meu universo – de mim e das minhas circunstâncias.

Ainda acredito que essa hora em que tudo fica claro chegará. Nunca é tarde, nunca é demais.

Enquanto isso, e até então, se a minha vida tivesse uma trilha sonora, cada vez que eu me pegasse não conseguindo me conectar, empatizar ou me colocar no lugar do outro, nós ouviríamos Bárbara.

Mais uma vez em homenagem à mamãe, deixo-os com a versão em que Chico interpreta Bárbara solo.


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domingo, 6 de janeiro de 2008

MIL VEZES CHICO

Ouço muitas canções – e mil vezes cada uma delas. Sim, Theodor Adorno. E sempre foi assim. Mesmo quando eu não vivia solita, mesmo quando eu não tinha fone de ouvido, mesmo quando eu não tinha um toca-música pessoal.

Foi apenas na adolescência que eu levei o toca-fitas (melhor, o gravador) da família para o quarto. Até então eu ouvia rádio, discos ou cassetes na sala mesmo. Mil vezes cada canção. E ninguém se incomodava com a repetição da minha trilha sonora.

Em parte porque eu ouvia música à tarde, quando raramente havia mais de duas pessoas em casa. Meus pais trabalhavam. Eu e os meus irmãos, após as aulas, transitávamos entre Cultura Inglesa, Aliança Francesa, violão na Marisa, natação na USP, ginástica na Cida, ballet ou judô no Paineiras e os trabalhos de equipe (existe isso ainda?) que geralmente eram em outras casas. Sim, falta coisa, hermanitos. Mas o ponto é que nossos horários em casa não coincidiam.

E em parte porque crescemos num ambiente em que se ouvia mil vezes cada canção. Meu pai só queria saber de árias de ópera, interpretadas invariavelmente por Caruso, Tito Schipa, Beniamino Gigli. E minha mãe só queria saber de MPB. MPB? O negócio dela era Chico.

Como teria sido a minha infância sem ouvir mil vezes Chico? Não sei. Mas hoje, parodiando Ruy Guerra, hoje eu seria mais pobre, estaria mais vazia, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção.

Em homenagem à mamãe, deixo-os com Construção.

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sábado, 5 de janeiro de 2008

YOU WON’T GO TO THE BALL!

Alguém gravou o álbum Picture Book do Simply Red em cassete para mim, e esse cassete não saía do meu walkman. No Japão eu havia presenteado-me com um walkman compacto – para padrões da época era compacto sim! –, e eu o carregava para todo lado. Éramos uma versão um pouquinho crescida de Linus e seu cobertor. Ah, mas por que esse álbum todo? Eu só ouvia Jericho, um milhão de vezes – mesmo que o comando rewind levasse tanto tempo e gastasse tanta pilha!

Ainda assim, jamais consegui entender do que se trata essa canção.

Algum tipo de relação mestre/aprendiz yuppie? Como aquela retratada em Wall Street de Oliver Stone? E quem se seduziria por alguém que vai construir-lhe uma carreira, torná-lo rico – mas também transformá-lo num brinquedo, no seu garotinho? Qual seria a graça de se ter uma carreira e ser rico se isso não fosse acompanhado de liberdade e de poder sobre si mesmo? E por que passar tanto tempo tirando fotos bonitas do garoto? Is there something gay going on here? E onde entram nisso tudo as muralhas de Jericó?

Essas eram algumas das minhas inquietações em 1986, 1987. Bom, "inquietações" não é uma boa escolha de palavra. Nenhuma dessas perguntas chegou a me impedir o sono, a paz, a tranqüilidade. Mas há algo de surreal, talvez, em eu ter ouvido tantas vezes as mesmas palavras, sabê-las de cor, cantá-las com Mick Hucknall, cantá-las sem Mick Hucknall... sem jamais alcançar uma boa compreensão daquilo que eu repetia.

Talvez não haja nada mesmo a ser compreendido. Ou talvez se trate de algum tipo de linguagem cifrada, cuja chave eu desconheça. E nem queira conhecer – caso contrário eu já a teria buscado, não? Mas já que revisitei esse assunto aqui, vinte anos depois, será que trato de resgatar essa minha dívida com essa canção? Será que, para tanto, peço ajuda ao Tony Goes, um aficionado dos anos 80? Ao Arthur Nestrovski, que em toda canção me revela um novo olhar, uma nova canção? Ou será que amanhã tudo isso já se dissolveu – como acontece com tantas das, er, dúvidas céticas que me visitam?

De todo modo, há algo nessa canção para o qual eu não preciso ajuda: O seu refrão, “you won’t go to the ball”! A minha reflexão sobre isso, sobre ser e/ou sentir-se excluído de algo que se nos apresenta como uma promessa irresistível de felicidade, é um bocado elaborada. Escrevo outra hora.

Por ora deixo-os com Cinderela, o arquétipo de quem leva – e não aceita – um “you won’t go to the ball”. Sim, ela vai ao baile. E sim, aquela promessa irresistível de felicidade concretiza-se. Aqui é a maravilhosa Scarlett Johansson fotografada pela genial Annie Liebovitz para uma campanha da Disney. Retratada assim, fugindo ao soar das doze badaladas, com pressa mas sem angústia ou arrependimento, essa Cinderela nos lembra que o seu conto de fadas é o mais perfeito elogio à desobediência.

I will go to the ball!

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O MEU PÓS-9/11

Uma semana havia se passado desde os ataques de 11 de setembro, e eu ainda estava presa em Manhattan.

O meu anfitrião, um executivo importante do Morgan Stanley, passava o dia entre reuniões e conference calls e planilhas de Excel. Para mim, ele estava in denial. Para ele, ele estava quantificando o impacto do boom da economia americana no valor de ativos financeiros. Sim, em 9/18 já se esperava que os Estados Unidos retaliassem com uma guerra. Ainda não se sabia qual daqueles países de nomes difíceis e hábitos estranhos seria o inimigo nessa guerra. Para os mercados financeiros, isso não importava. Bastava que houvesse uma guerra.

Desejo de vingança? Crença na violência como solução de conflitos? Ah, isso é para os white trash do meio oeste. Os mercados financeiros são racionais. É que guerras e desastres e as reconstruções do que foi destruído geram enormes despesas governamentais. E yada yada yada uma economia vibrante! E como os soldados e civis que morrem nas guerras não são os filhos dos investidores – ah, isso está bem substanciado em Fahrenheit 9/11 de Michael Moore.

Meus amigos da pracinha de cachorros em Flatiron já haviam bolado um plano de fuga para mim: Tão logo as pontes e os túneis reabrissem, eu tomaria um trem para Montreal e, de lá, um avião para São Paulo. Eu estava hospedada em Union Square, ao redor de prédios históricos – para os meus amigos da pracinha, alvos de novos ataques terroristas. E eles, porque não fugiriam para Montreal comigo? Porque em Manhattan eles tinham propriedade, carreiras, famílias... cachorros!

Ah, eu também tinha o meu (o quase meu) cachorro Clio (então Cleo) em Manhattan. E essa saída via Montreal implicaria em deixá-lo nos Estados Unidos – isso não! A boa notícia daquele 9/18 é que, numa Nova York aterrorizada e paralisada, eu havia conseguido regularizar a exportação do Clio junto ao USDA. Agora faltava o consulado brasileiro – apenas!


Enquanto não conseguíamos a autorização do consulado, eu e o Clio levávamos muffins e flores aos corpos de bombeiros, ajudávamos os parentes e amigos dos desaparecidos a colar cartazes pela cidade, e participávamos de manifestações anti-guerra. Quase sempre ao som de Bebel Gilberto, a minha trilha sonora daquele verão. Minha, não – de todo mundo! A Bebel estava até naquela temporada de Sex and the City.

Deixo-os com Tanto Tempo, a mais dreamy das canções de Bebel Gilberto.

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MINHA TRILHA SONORA

Sobre a minha relação com a música, já lhes asseverei que sem música a vida seria um erro... Bem, esse é Nietzsche. Mas me cabe bem.

No começo de agosto de 2007 contei-lhes que eu me via inundada com uma pletora de idéias, sensações e sentimentos. Idéias, sensações e sentimentos que não conseguia traduzir em palavras. Mas que aos poucos, e nas formas mais insólitas, essas palavras iam me aparecendo – tantas vezes na forma de letras de canções. Assim foi com “com palavras não sei dizer”, assim foi com “dó de mim”.

Existe algo mágico aí, não? Nessas palavras que se fazem acompanhar de melodias? Pensem nas marchinhas de carnaval, pensem na leitura da Torá, pensem em como vocês conseguiram memorizar suas tabelas periódicas.

Apesar do meu bloqueio em me expressar em palavras, apesar de eu ter ficado dois meses sem bloggar, nesse período, por conta dessa magia, passei a deixar, no meu scrapbook do orkut, minhas recomendações de trilha sonora. Um pequeno texto sobre uma canção que estava ouvindo – então ou mesmo em 1977! –, acompanhado do seu áudio ou do seu vídeo.

A esse delicioso e terapêutico exercício dei o nome de MINHA TRILHA SONORA. Passo a praticá-lo aqui também!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

BEIJOMELIGA!

Já lhes contei que adoro a minha vida, o meu estilo de vida. E sinto que devo muito disso ao fato de adorar a minha casa, o meu prédio, todas as pessoas que moram ou trabalham aqui, o meu bairro. Sei que não há nenhuma originalidade nessa idéia – que é, aliás, do que trata o novo livro de Alain de Botton. (Não é, Priscilla S.?)

Sempre presumi que esse adorar o meu prédio e o meu bairro incluísse uma boa dose de subjetividade. Afinal, moro num edifício como tantos outros nos Jardins – e não no Dakota no Central Park West.

Mas será mesmo assim?

E se eu dissesse que é nesse prédio que moram o Tony Goes e o seu marido Oscar? Que são eles os nossos anfitriões nos esquentas mais divertidos de São Paulo? Que são esses os esquentas que, ao longo de 2007, passaram a incorporar os incríveis Encontros dos Blogueiros Bafônicos? Que são esses os esquentas que tem flyer faustuoso desenhado pelo talentosíssimo Leo Gross?

Agora você começa a entender porque o übber blogger Carioca está pensando em se “mudar para esse prédio onde mora a nata da cultura e do bom humor paulista”.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

GIRLS' NIGHT OUT

Passamos 2007 entre os homens mais bonitos, inteligentes, divertidos e poderosos de São Paulo e Rio de Janeiro. E deles recebemos todo tipo de gentileza, convite, mimo, colo, apoio, elogio. E tudo isso por que? Tudo isso porque, se é que acredito no übber blogger Carioca, somos “supercultas, inteligentes, belas e bem-enturmadas”. Acho que vocês entenderam: Não dá para ficar longe desses fofos.

Ainda assim tivemos no finalzinho de dezembro, a Libanesa e eu, o nosso primeiro e muito exclusivo girls' night out. O que fizemos ou sobre o que conversamos não vejo sentido em contar aqui – foram coisas, como se diz nos tribunais, de foro íntimo.

Ah, morram de inveja ou de curiosidade: Não vou contar. Como diz a Libanesa, me deixem ser rica em paz. Blé!

A ARTE DE SE AUTOPROCLAMAR

Mas conto que começamos a noite na loja O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo? O que tem a minha atenção nessa estória não é o bolo em si. Se é mesmo o melhor do mundo, se é um bolo de chocolate ou, antes, um merengue de chocolate, se vale as suas calorias – sobre tudo isso o Shoichi Iwashita e o Tony Goes já falaram, e muito bem.

O que tem a minha atenção é o chutzpah da autoproclamação. Se funciona? Perguntem para Carlos Braz, o chef do melhor bolo de chocolate do mundo, para Napoleão Bonaparte, imperador de Roma, para Muhammad Ali, the greatest of all time, ou para Madonna, the queen of pop. Sorry, guys. Eu também a amo, e já escrevi sobre isso – mas a Madonna se autoproclamou a rainha do pop bem antes de estar na Billboard.

Se autoproclamar-se é ético? Well, I guess I'm conflicted out: Eu já fiz uso da autoproclamação.

A ARTE DE ME AUTOPROCLAMAR

Explico. Em 1999 assisti ao incrível The Virgin Suicides de Sofia Coppola. Havia algo da minha infância ou adolescência ali. Não os pais neuroticamente repressores, nem a melancolia suicida – nada disso! Tive uma infância deliciosa, um pouco da qual já lhes contei. Mas as meninas loiras de cabelos longos e lisos, como as da escola que estudei em Baltimore, ou da escola alemã que estudei em São Paulo. Mas a trilha sonora, o bailinho, a fotografia que teima em desbotar ou amarronzar cores tão vivas, a máquina de fliperama – tudo isso...ah, não sei!

Talvez esse filme tenha esboçado a grande identificação que senti, alguns anos depois, na obra-prima de Sofia, Lost in Translation – e aqui consigo evidenciar melhor essa identificação, pois também eu me percebo em despertencimentos e em reconexões, também eu me vi numa temporada em Tóquio entre estranhamento e encantamento. Talvez...ah, sei que não me explico bem!

Só sei que foi assim: Eu me vi em The Virgin Suicides e, em especial, na personagem da Kirsten Dunst, Lux. Pronto: Passei a me autoproclamar Lux. Só a minha irmã Marília adotou. Mais tarde, do nada, meu melhor amigo Tommy decidiu que o meu novo nome seria Lux.

Dessa vez pegou!